Com todas as suas forças, um casal se desafia em uma competição de vela, passando dias e noites em um enorme lago. Sob a direção de Fabrice Aragno, o longa suíço mistura cenas de ilusão com o percurso aquático, numa reconstituição quase que febril do período longe da terra firme.
Exibido na Competição Novos Diretores da 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Le Lac ganha a companhia de Atelier Rolle, na sessão dupla que saúda as obras do discípulo de Godard, ao mesmo tempo em que reafirma a autoralidade do realizador mais jovem.

Para todo o esforço, O Lago falha em suas múltiplas razões de existir: como testamento dos laços do casal, deixa a desejar. Como registro naturalista da aventura, tropeça na própria linguagem. E como ficção que se estende por quase noventa minutos, é um tédio que só.
O longa recebeu uma menção especial do júri ecumênico no Festival de Locarno, e ostenta a pompa vazia que o privilégio branco estende sem ver a quem. Os personagens são espaços vazios, ao passo que a direção de Aragno, tão investida nas sensações fora do corpo, é ela mesmo um oco receptáculo de entendimento.
O diretor, que assina os departamentos técnicos do filme, investe na sonoplastia (ao lado de Léa-Célestine Bernasconi), e cria uma porção de barulhos inquietantes e estridentes, como a água castigando a proa do barco e os trovões dançando na superfície azul. A montagem, função repartida com Chloé Andreadaki, intercala o material e o imaterial. Mas nem todo labor do mundo salvaria O Lago da própria perdição.
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