Ninguém fala do fim de amizades duradouras como Lena Dunham. Melhor ainda: ninguém fala destes términos com ciência de sua importância no passado e da impossibilidade de sua existência no futuro, e o final de Girls martela a ideia de evolução para Hannah e especialmente para ela. Sozinha, a protagonista rejeita o romantismo de outrora e enxerga a realidade com menos otimismo.
Numa viagem à trabalho, conhece Paul-Louis (Riz Ahmed), de quem futuramente ficará grávida, no momento mais crucial da série da HBO. O encontro acontece na premiere, All I Ever Wanted, o episódio mais longo de Girls, numa jornada de dramédia que coloca Hannah no precipício de todas as decisões que já tomou até então. A coisa cresce nas mentiras que ela conta para proteger Marnie (Allison Williams), numa recaída com o marido divorciado, às costas de Ray (Alex Karpovsky).

A paciência acaba em todas as frentes, com Jessa (Jemima Kirke) sendo repreendida por Shoshanna (Zosia Mamet) e por Elijah (Andrew Rannells). A primeira guarda mágoas ancestrais com a prima, e o segundo joga na cara a situação terrível que acometeu a figura de Adam (Adam Driver) e a amizade com Hannah. As personagens, em sua maioria isoladas das amigas, começam a caminhar com as próprias pernas. Para o bem e para o mal, a decisão demonstra na carne a separação entre elas.
Shoshanna, por exemplo, aparece raramente, e retorna no antológico Goodbye Tour para estraçalhar os sentimentos de abandono que cultivou desde o retorno do Japão. Em sua festa de noivado, para a qual Hannah não foi convidada, a mais jovem reúne o quarteto no banheiro e manda a real: elas não fazem bem umas para as outras, e o certo é uma cisão definitiva. Hannah primeiro recusa, para depois enxergar a saída lógica da situação.

Em espetáculo das atuações das mulheres à frente da série, o episódio 9 funciona como conclusão “tradicional” da narrativa, marcando também as aparições finais de uma porção de personagens. Um capítulo antes, em What Will We Do This Time About Adam?, Girls mostra o desfecho dos personagens de Driver e Karpovsky, que entendem suas vocações para além do mundo regido por Hannah e cia.
Antes do ultimato, Adam e Jessa decidem que o próximo passo lógico de seu relacionamento é produzir um filme sobre a relação entre ele e Hannah. Gráfico e cru à moda de NY, o projeto escala Genevieve (Daisy Eagan) para viver a protagonista, e ganha o título de Full Disclosure. Mais tarde, outra epifania: ele quer criar o filho que ela carrega na barriga, e Girls viaja para uma realidade paralela, onde o casal vive feliz. Emocionados, os atores se olham com carinho e pesar, numa lanchonete que serve de sepultura para o amor cultivado antigamente.

Ray lida com o luto da morte de Hermie (Colin Quinn), seu mentor. Para sanar a auto-imposta busca por propósito, o barista cruza com Abigail (Aidy Bryant), antiga chefe de Shosh que acaba ajudando-o a concretizar a missão deixada pelo falecido dono do café. Agridoce, o final de Ray é daqueles de melancolia, especialmente ao analisarmos a relação horrorosa com Marnie e as incessantes recaídas emocionais. Passado isso, ele parece se encaminhar para dias melhores.
A vida de Elijah, por outro lado, muda quando ele comparece às audições abertas de um futuro musical da Broadway, adaptado do filme Homens Brancos Não Sabem Enterrar. Rannells, um astro do teatro, levita em cena, arrasando no canto e na dança, mas sofrendo com toda a questão das bolas de basquete. Uma das almas gêmeas de Hannah, ele termina Girls em ascensão, e retoma o fiapo de romance com o jornalista vivido por Corey Stoll.

À parte do resto da temporada, o episódio American Bitch percebe a força da escrita como ferramenta de dominação ao levar Hannah na casa de Chuck Palmer, um autor famoso, acusado de assédio sexual. O personagem é interpretado por Matthew Rhys, a quem Dunham admirava à época de The Americans, e ganha contornos febris e doentios no seu discurso de quebra de conduta. Indicado ao Emmy de Ator Convidado pelo papel, Rhys subverte a aparência de cara legal e assume o lado predatório na situação.
É preciso coragem para declarar a inospitalidade de Nova York e admitir a “derrota” em sair de tal situação; Hannah o faz com sabedoria e, amparada pelos pais, nas figuras incríveis de Peter Scolari e Becky Ann Baker, se muda para o norte do estado. Latching, a series finale com pinta de epílogo, mostra a amiga, o filho e Marnie vivendo na harmonia que conseguem manter.

A solidão de Hannah, especialmente no período da gravidez e das consultas médicas sem amigos ou parceiros, transparece no cansaço e também no discurso da maternidade longe das dramatizações. Girls escolhe o trajeto tortuoso, recompensando personagens e espectadores com um vislumbre nada discreto ou fantástico do que acontece atrás das cortinas. É mágico, ridículo, horroroso, maravilhoso e especial.


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