Na 5ª temporada de Girls, o mundo depois de Hannah

As peças de dominó se encaminham para uma conclusão dolorosa na temporada mais madura de Hannah

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Marnie vai se casar, mas a previsão do tempo acusa possibilidade de chuva. Allison Williams canaliza a caretice da cantora, que contrata uma maquiadora um tanto desavisada, papel de Bridget Everett, e sofre em antecipação pela união com Desi (Ebon Moss-Bachrach). A 5ª temporada de Girls começa à todo vapor, com todos os personagens reunidos numa fornalha de ressentimento e segredos.

O elefante na sala: Jessa (Jemima Kirke) e Adam (Adam Driver) se beijam, na impulsiva decisão que guia os dez episódios, e separa cada vez mais Hannah (Lena Dunham) do restante do grupo de amigos. Shoshanna (Zosia Mamet), na contramão, está loira e de volta brevemente do Japão, onde sente que encontrou a felicidade ausente na América.

Para o casamento, Marnie quer ressaltar sua herança: mulher branca e cristã (Foto: HBO)

Ray (Alex Karpovsky) sofre com a certeza de que o amor da sua vida está prestes a selar o matrimônio com um cara qualquer, mas como o egoísmo nunca foi fator determinante na vida do barista, ele se presta a mergulhar num lago congelante para resgatar o noivo e trilhá-lo ao altar. A cena, porém, precisou ser gravada no fim da temporada, considerando a temperatura do dia das filmagens do casório.

Elijah (Andrew Rannells) se emancipa do drama feminino e engata um romance com um jornalista famoso, papel de Corey Stoll. Para a infelicidade do amigo de Hannah, a relação mais desgasta Elijah do que o beneficia, chegando ao ápice em um banheiro luxuoso, onde Dill conclui que precisa sim de alguém fantástico ao seu lado, esse alguém não é Elijah, contudo. 

Andrew Rannells contou no Late Night with Seth Meyers que, por ser o único gay no set, acabou coreografando sua cena de sexo com Corey Stoll (Foto: HBO)

Tad (Peter Scolari, vencedor do Emmy 2016 de Ator Convidado) desfruta da vida homossexual com um caso repetino com Keith (Ethan Phillips). O encontro online leva o pai de Hannah à cidade grande, onde ele transa com o homem, mas esquece a carteira na casa dele. Cabe a filha, desgostosa com a ideia, recuperar o objeto. O momento, porém, serve para demonstrar o milímetro de crescimento pessoal que a protagonista está disposta a cultivar no ano 5.

Alguns episódios depois, é Loreen (Becky Ann Baker), a mãe de Hannah, quem precisa do apoio incondicional de sua criança. Em Queen for Two Days, a dupla visita um resort para mulheres divorciadas (com a presença de Brandon Scott Jones, de The Other Two), rendendo uma epifania para a esposa de um homem gay, e uma cena desconforável de sexo para a filha de um homem gay. O momento ficou marcado na vida de Lena Dunham: foi a primeira vez que gravou uma sequência íntima com alguém com o mesmo nome que ela.

Além do título aparecer em japonês, o episódio 3 conta com canções no idioma local (Foto: HBO)

A 5ª temporada parece capturar uma lógica de segmentos para tratar da evolução das mulheres. Com Shosh, o episódio Japan acompanha sua desilusão enfim tomando corpo e se confirmando na ausência de propósito. Ao lado de Abigail (Aidy Bryant), ela perambula pelas ruas coloridas do país, e decide ficar por lá, mesmo sem emprego.

A capacidade de crescimento de Shosh é posta à prova na relação com um antigo colega de trabalho e também na sequência ambientada numa casa de prazeres. A cena nasceu da experiência de Dunham, que visitou os locais quando visitou o país.

Abigail: [Andando por Tóquio] “Sério, eu me sinto, tipo, como se estivesse dentro da vagina da Katy Perry”.

Marnie ganha um episódio para chamar de seu no caótico The Panic in Central Park. Depois de uma briga com Desi, ela sai para esvaziar a cabeça e esbarra com Charlie (no retorno de Christopher Abbott). Juntos, os antigos amantes visitam festas e transam ao redor da ruína que a vida dele se tornou. No roteiro, Lena Dunham inspirou-se em um conhecido, que ganhou peso, mudou de sotaque e se envolveu com o tráfico de drogas.

O capítulo foi escrito sem a certeza de que Abbott voltaria à Girls, já que sua saída abrupta da produção deu-se por uma disputa criativa com a criadora. Se ele recusasse, a ideia seria descartada. Além de engarrafar a narrativa de Marnie, o episódio marca a primeira vez que Dunham não tem falas em Girls, só aparecendo na última cena, dormindo.

Julia Garner aparece brevemente como a colega de pensão de Charlie (Foto: HBO)

Passado os acontecimentos de Marnie e Shosh, a temporada se volta ao namoro de Adam e Jessa, em conflito com a irmã dela, Minerva (Marianna Palka), que se recusa a emprestar dinheiro para a faculdade. Sem problemas, já que os trabalhos de atuação do namorado são mais do que suficientes para arcar com as despesas estudantis. Entre comerciais e aparições na TV e no Teatro, Adam é convidado numa paródia de Law & Order.

Ele também é um dos muitos intérpretes na peça imersiva que detalha o assassintato de Kitty Genovese, acontecimento histórico da cidade de Nova York. No fatídico Hello Kitty, Driver atua com sua esposa na vida real e Dunham entrega a melhor performance da carreira. O momento é sutil, quando Hannah capta uma troca de olhares entre o ex e a amiga, e cresce até implodir no semblante de choque e paralisia da escritora.

Jamie Babbit retorna à direção no episódio que mostra a volta envergonhada e temerosa de Hannah à cidade (Foto: HBO)

O namoro com Fran não sobrevive muito depois disso, rendendo uma viagem furada e a necessidade de que Ray a resgate na beira da estrada. Impaciente, Hannah paga a gentileza com um sexo oral tão potente que capota a recém-comprada van. Egoísmo e desprendimento são os sentimentos que direcionam ela ao carro de um desconhecido, na quebra de expectativas que Girls tanto aproveita: afinal, NY é um atrativo que ganha de qualquer forma de medo ou covardia.

O rompante de coragem surge, e mesmo a presença de sua nêmesis, vivida mais uma vez por Jenny Slate, consegue enfraquecer o arsenal que Hannah guarda desde que saiu do emprego na GQ e assumiu o posto de professora. Sem o vínculo na escola ou o namoro com Fran impedindo-a de ascender, ela volta ao papel e a caneta, tratando de ciúmes numa sessão aberta de comediantes na finale.

Ao receber a notícia de que sua música será usada em Grey’s Anatomy, Marnie repensa a vida e volta para os braços de Ray, no mesmo episódio que seu intérprete Alex Karpovsky assume a direção (Foto: HBO)

I Love You Baby, a primeira vez que Lena Dunham não dirige o encerramento de uma temporada de Girls, serve de testemunho para a destruição que Jessa e Adam são capazes de gerar. Depois de cuidarem da sobrinha dele, apelidada de Amostra e abandonada por Caroline, o casal se consome em ódio e raiva e ressentimento e inveja. O motivo é Hannah, a amiga que Jessa preza mais do que demonstra e a ex-parceira que Adam quer deixar no passado.

Ao mesmo tempo em que os móveis e objetos de decoração se estraçalham entre os gritos dos desajustados, Marnie aceita que a relação com Desi está enterrada além do alcance, e Shoshanna sorri frente ao propósito de reconfigurar o café de Ray. A ideia é um ambiente anti-hipsters, e cai no gosto dos nova-iorquinos. No palco do clube de comédia, Hannah respira, depois de anos segurando o fôlego e assassinando a própria paz de espírito. Estamos quase no fim. 

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