Na 4ª temporada de The Morning Show, um liquidificador narrativo

A explosiva guerra midiática da Apple TV chega a níveis estratosféricos com novos atores integrando o elenco de peso

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Um drama que corre em direção aos diversos temas da atualidade, The Morning Show já falou da pandemia e dos ataques de 6 de Janeiro – para fins de desenvolvimento pessoal e coletivo de seus personagens. Na 4ª temporada, a pescada da vez é a cobertura das Olimpíadas de Paris e a crescente desmedida da Inteligência Artificial.

Ecos de Vale Tudo e sua metralhadora de tramas mal aproveitadas e rápidas no gatilho podem ser abafados pela consistência narrativa da série, que tem dificuldades em organizar suas histórias, mas ilumina-as quando enxergadas de forma separada. O arco dos Jogos Olímpicos cerca os dez episódios, focando tanto na cobertura jornalística quanto na figura de Chris (Nicole Beharie), a âncora do TMS que foi medalhista no Rio e em Londres.

Amari coloca Nicole Beharie na beira de uma montanha emocional, e deve render outra indicação da perspicaz atriz às premiações (Foto: Apple TV)

Uma campanha de difamação surge e coloca a mulher numa posição de extrema sensibilidade, amparada pela nova agente Mia Jordan (Karen Pittman), que pediu demissão depois de ver o cargo dos sonhos parar no colo do novato Ben (William Jackson Harper), jornalista esportivo que agrada o comitê de membros da UBN. Com as peças em movimento e sem a segurança de uma rede de apoio, é cada um por si nesta nova leva de episódios. 

Cory (Billy Crudup) trocou o posto de executivo pelo de produtor, sendo afetado pelos incêndios que paralisaram e intoxicaram a Califórnia. Com um salto temporal que inicia a história em 2023, há também um recurso de IA que muito agrada Stella Bak (Greta Lee), a nova CEO da emissora. Para seu azar, o investimento chega acoplado à diversas expectativas alheias.

Quando é entrevistada para o cargo de chefia, Mia cita diversos casos reais de violência e censura contra jornalistas (Foto: Apple TV)

O resultado explode em sua cara no fantástico If Then, quando a ferramenta se volta contra sua mentora e revela, entre outros podres, o caso que Stella mantém com Miles (Aaron Pierre), marido da cabeça pensante da UBN, Celine (Marion Cotillard). A paz é antônimo da gerência do conglomerado midiático, que ainda precisa resgatar Bradley Jackson (Reese Witherspoon) do Meio-Oeste, onde o acordo com o FBI mantém-na protegida, porém sob vigilância.

Alex Levy (Jennifer Aniston), por outro lado, encontra no podcaster Bro (Boyd Holbrook) um adversário de ideais e um imã de sensualidade, protagonizando o romance menos previsível e mais cabeludo da temporada (mais do que, claro, o caso de Stella e a eventual ficada de Cory e Celine). Mas não é apenas o coração de Alex que a castiga, com o pai, Martin (Jeremy Irons), aparecendo na cena a fim de coagir a jornalista a apoiá-lo num perfil jornalístico da faculdade onde leciona há décadas.

A temporada dedica um episódio às questões familiares em The Parent Trap, quando Alex e Cory encaram seus genitores em posições drásticas (Foto: Apple TV)

Nem é preciso salientar o tamanho do pepino que a protagonista se vê frente a frente, numa temporada que também a coloca no fogo-cruzado com o governo do Irã e em maus lençois com o ex Paul (Jon Hamm), a única fonte de ajuda quando Bradley sofre nas mãos de um governo oligárquico do outro lado do mundo. Chip (Mark Duplass) tenta atenuar as consequências, mas o furo que Jackson descobre, envolvendo anos de suborno e violência, é grande demais para ser ignorado.

Num rompante que goteja tensão e embates, a temporada acaba numa coletiva de imprensa filmada com gana pela diretora Mimi Leder. A recompensa por tanta sujeira e brutalidade acontece à luz do dia, provando o tato de The Morning Show pelo espetáculo e pela ocasional patinada dramática, que à essa altura tornou-se parte do charme da série.

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