Era questão de tempo para que M3GAN, a robô-assassina com rosto de boneca e dancinhas hilárias, assumisse seu posto no panteão queer de ícones do horror moderno. Portanto, o segundo filme da personagem deveria mudar seu status de vilã para, no máximo, uma anti-heroína com benevolência, mesmo que mínima.
Repete-se o time do sucesso de 2022, que tomou as redes sociais de supetão e colocou a boneca como sinônimo de marketing orgânico: de números musicais em Paradas do Orgulho até uma aparição marcante nos palcos de Drag Race, M3GAN chegou para ficar. E então veio o segundo longa.

Lançado no verão americano, a aposta arriscada da Blumhouse caiu por terra quando a audiência, ávida por uma reprise da aura caótica da protagonista, assistiu a um filme de ação com requintes do horror cibernético de outrora. Mais no campo do Exterminador do Futuro do que no de Chucky, a versão atualizada de M3GAN desafiou as expectativas do público.
O resultado é parcialmente bem realizado, com todos os elementos originais em modo avantajado, como a dancinha antes de trucidar suas vítimas e a cantoria de um sucesso pop fora de contexto que gera aquela risada involuntária. O elenco humano continua uma evolução de onde pararam antes, com Gemma (Allison Williams) enxergando sua criação como filha e parceira.

A sobrinha da inventora, papel de Violet McGraw, entende que nem a mais forte babá do mundo poderá protegê-la se ela mesma não se esforçar. M3GAN, na voz de Jenna Davis e na corporalidade de Amie Donald, troca de roupa, ganha peruca matadora e até enfrenta uma nêmesis que espelha a própria criação em laboratório.
Amelia (Ivanna Sakhno), a grande vilã do segundo filme, começa interessante e se esvai em movimentos pouco inspirados do roteiro, chegando ao terceiro ato como sombra da ameaça que já desempenhou. Sutil nos mínimos detalhes, o texto coloca dois ricaços com complexo de Deus do lado de lá do embate ideológico e ético. Se Jemaine Clement sai por cima com seu putrefato tech lord, Aristotle Athari escorrega nos clichês que as atualidades tornaram palpáveis para quem vive conectado.

Embora audacioso, M3GAN 2.0 calculou mal as chances de repetir o furacão de humor e terror que colocou a boneca no mapa. Um lançamento à moda do original, no fantasmagórico e comercialmente livre mês de janeiro, eliminaria metade das preocupações do produtor Jason Blum, que parece tentado a colocar a personagem de volta na caixa e não abrir o lacre tão cedo.
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