Filhos de Sangue, gravidez masculina e doenças mortais: as histórias de Octavia E. Butler

Raros em seu repertório, os contos de Octavia E. Butler seduzem com o vislumbre macabro do mundo

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Dama da ficção científica, Octavia E. Butler escreveu quando ninguém parecido com ela tinha feito isso. Precursora entre as autoras negras, a americana nunca foi chegada a contos e pequenas histórias, mas deu o braço a torcer com a coletânea Filhos de Sangue, que abriga uma porção de narrativas plurais e criativas ao redor de conceitos-base da Literatura de fantasia.

O conto que batiza o livro, lançado no Brasil pela Morro Branco com tradução de Heci Regina Candiani, é uma alegoria a escravidão que Butler nunca pretendeu ser lida assim. Na verdade, a história que acompanha uma família humana refém de uma raça alienígena que propaga a espécie por meio de ovos-parasitas, referia-se, de início, a ideia de um homem colocar-se no papel de genitor e escolher levar o feto alien na barriga.

Octavia E. Butler morreu em 4 de fevereiro de 2006, vítima de uma queda em sua casa em Seattle (Foto: Reprodução)

O livro conta com notas da autora ao final de cada conto, que servem tanto de referencial das ideias originais, quanto de como cada história foi recebida pelos leitores e pelo mercado. Butler fala com franqueza sobre a experiência de vender suas ideias e receber negativa atrás de negativa, além de desatar o próprio processo criativo.

Navegando por temas como doenças hereditárias e os ossos da sociedade como modelo funcional de harmonia, Butler pincela terror e mistério nas entrelinhas. Ao fim dos contos, a autora anexa ensaios publicados em revistas que debatem o ato da escrita e o papel do negro como consumidor e feitor da Literatura de Ficção Científica. 

Butler é conhecida pelos romances seminais do gênero, como Kindred, que virou série de TV (Foto: Reprodução)

Perfeito para ser usado em salas de aula, Filhos de Sangue e Outras Histórias finaliza com uma seleção de questões a serem trabalhadas, que vão de conceitos narrativos, como livre-arbítrio, felicidade e senso de dever cumprido, aos mais profundos questionamentos que a Arte permite-se ponderar. Butler, ciente de seu arsenal, deixa margem para todo tipo de resolução.

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