Extermínio: A Evolução reverte os signos do horror ao falar sobre amor materno

Os zumbis de Danny Boyle estão de volta em filme melodramático

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O primeiro Extermínio foi lançado como filme-cápsula de um apocalipse borbulhante e sangrento. Extermínio 2, seguindo a mesma toada, expandiu a gama de ataque dos infectados e trouxe mais da jornada familiar para o jogo de ação e correria. Não era da expectativa de ninguém que, quase duas décadas depois, Extermínio: A Evolução seguisse pelo caminho oposto.

Aqui, vinte e sete anos depois do surto da raiva que isolou o Reino Unido e transformou os doentes em monstros sanguinários, o pequeno Spike (Alfie Williams) mal completou 12 anos e já está sendo levado para o continente pelo pai, Jamie (Aaron Taylor-Johnson), para que mate seu primeiro zumbi.

Cillian Murphy assina a produção executiva e expressou a vontade de retornar ao papel protagonista do filme de 2002 (Foto: Sony Pictures Releasing)

O menino é esperto e muito perspicaz, mas mantém próximo ao coração o senso de devoção à mãe Isla (Jodie Comer), de cama e impossibilitada de viver com o resto da pequena cidadezinha, formada por cidadãos auto suficientes e cheios de recursos.

Tudo vai bem, até que Spike enxerga, ao longe, uma fogueira de proporções bíblicas. O pai ignora, já que um bando de monstros persegue a dupla. Agora, os infectados evoluíram a ponto de terem líderes, chamados aqui de Alfas ou Berserks, que são mais fortes, rápidos e inteligentes que os demais.

O filme criou os corpos-zumbis usando próteses hiperrealistas e maquiagem (Foto: Sony Pictures Releasing)

Sansão, papel de Chi Lewis-Parry, representa a ameaça palpável de Extermínio: A Evolução, mas é o pai de Spike o antagonista sentimental do filme, que retoma a direção de Danny Boyle e o roteiro de Alex Garland, o duo que lançou a franquia em 2002 e se manteve distante da história desde o filme de 2007. Planos para uma eventual sequência chamada de 28 Months Later foram descartados por direitos autorais, mas os anos devolveram-nos aos responsáveis originais, dando vazão a este lançamento e mais dois, ainda por vir.

Em 2017, Rian Johnson seguiu uma trilha semelhante em seu corajoso Os Últimos Jedi. Embora a franquia de Stars Wars seja significativamente mais popular e venerada que os zumbis de Boyle e Garland, fica claro que o roteiro de ambos longas parte de uma questão dissidente ao modus operandi: e se, em vez de expandir a história aos moldes do passado, o filme respondesse a questões emergentes do mundo real?

A Evolução incorpora a montagem distópica típica da franquia, e insere um canto de guerra que estressa o espectador antes da ação tomar parte (Foto: Sony Pictures Releasing)

Na galáxia muito distante, a busca por ídolos e santos acabou com a imagem de um Luke Skywalker abatido pelos anos de desgraça e fracasso. Em A Evolução, a pandemia de coronavírus parece fio-condutor do discurso do cineasta, tratando do isolamento como cura e prisão das pessoas inocentes a seu efeito.

São imagens dolorosas, que Boyle assegura na câmera de Anthony Dod Mantle, frenética e inquieta; as mãos de uma mulher grávida, em meio a sujeira e o fedor, são amparadas pela presença de Isla, que tira do ventre da morta-viva uma criança sã e salva. Mais tarde, a figura mitológica do Dr. Nelson (Ralph Fiennes) toma a tela com a calma e a cautela da Medicina.

Memento amoris: é preciso lembrar de amar (Foto: Sony Pictures Releasing)

Spike desafia todas as regras de segurança e bom senso para procurar, quem sabe, um suspiro de esperança para o bem-estar da mãe. Os pequenos gestos, de um abraço entrelaçado em sonhos até a certeza de que a jornada até ali representa mais do que uma criança de 12 anos pode entender, são vitais para que a direção tire de seus atores uma relação de companheirismo sem igual.

Anunciado como primeira parte de uma trilogia, A Evolução é claramente um longa com “dois finais”. Spike encara a devassidão da natureza no encerramento, com uma carta em dedicatória à memória de quem ele mais amou. Na sequência, o loiro que abre o filme numa igreja amaldiçoada volta a cena como o ator Jack O’Connell, estendendo a Spike o que poderá ser a salvação ou a perdição no próximo capítulo da franquia, desta vez apenas sob a produção de Boyle, e com a direção de Nia DaCosta. 

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