Em Sorria 2, o sobrenatural é figurante 

“Biografia não-oficial de Chappell Roan” é mais um filme de terror com enfoque nos demônios do mundo das popstars

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Mesmo sem a presença do demônio metafísico que amaldiçoa em forma de sorrisos, a vida da cantora Skye Riley (Naomi Scott) já seria um inferno. Passou um tempão afastada dos holofotes, depois de um acidente que matou o namorado e a colocou num espiral de medo e abstinência. Agora, a nova turnê promete acordar os piores pesadelos da cantora. E então ela se depara com a ameaça de Sorria 2.

Dois anos depois do sucesso instantâneo e um tanto inesperado do primeiro filme, o diretor Parker Finn retorna à gênese da história, mas não se acomoda em repeti-la por completo. Sai de cena o luto como co-protagonista e entra a depressão e a ansiedade da fama. O trabalho é tão ou mais eficiente que o predecessor, quando a própria cantora, em cicatrização pelo passado doloroso, não sabe o que é fruto da imaginação e o que está de fato ocorrendo.

Em ano marcado por cantoras pop em situação de pânico – de Armadilha à The Idol, Sorria 2 traz no elenco de apoio o filho de Jack Nicholson como objeto perfeito de susto instantâneo (Foto: Paramount)

Para tal, o roteiro de Finn demora a introduzir os sorrisos do título, deixando a expectativa de quem assiste fazer o árduo labor de questionar, ponderar e pressentir o pior. Na fila do meet and greet, Skye dá de cara com um sem número de fanáticos, que podem ou não estar manifestando os horrores do monstro. Pior: a ameaça é tão maldita quando não passam de tietes sem noção.

Na ausência da âncora emocional que Sosie Bacon criou no primeiro filme, amparada pelo sempre carismático e intrigante Kyle Gallner, agora Scott segura o tranco nos próprios ombros, levando longas cenas de alucinação e temor, que ganham close-ups, grandes angulares e uma porção de imagens em perspectiva invertida.

Dos ensaios aos palcos, a coreografia acrobática assombra Skye até mesmo quando está em total controle de suas faculdades mentais. Não surpreende, portanto, que uma das manobras do demônio é mimetizar o caos de sua profissão em função do terror e da desesperança, com inspirações saídas das carreiras de Whitney, Britney, Gaga, Selena e até Drew Barrymore. O humor, parte imutável de um filme que usa sorrisos como susto, está mais nas beiradas do que no centro da encenação; as composições da estrela, entretanto, dão o tom dos esqueletos que esconde no armário.

Com menos sustos e sorrisos econômicos, o filme desenrola o tapete para um terceiro capítulo que tem tudo para arrebentar o gênero e subverter qualquer expectativa (Foto: Paramount)

Quando o traficante Lewis (Lukas Gage) comete suicídio usando um peso de academia como bigorna em choque contra o próprio crânio, é inevitável que seu cristalino sorriso forme uma imagem desconcertante do cômico no lugar do trágico. A mãe (Rosemarie DeWitt, de The Boys) que suga a filha, o assistente (Miles Gutierrez-Riley, de Agatha Desde Sempre) que falha em agradar seus gostos e até os parceiros profissionais que cobram-na mais do que pode oferecer: Skye vive um filme de terror em seu cotidiano. 

A participação da amiga Gemma, papel da sempre hilária Dylan Gelula (de Unbreakable Kimmy Schmidt), assim como o enfermeiro Morris (Peter Jacobson, de House), são ferramentas que Finn reutiliza, sem medo de soar farsesco ou demasiado próximo do filme que o alavancou ao epicentro de Hollywood. Com Naomi Scott em estado de fúria e sede, porém, Sorria 2 não precisa se preocupar com os arredores.

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