A sétima temporada de Drag Race UK nasceu sem a euforia ou a curiosidade de anos recentes do reality britânico. Ao passar das semanas, ficou claro que a produção queria um resultado sem intempéries ou obstáculos, levando adiante a competição em segundo lugar. No centro da ação, um elenco desfavorecido teve a chance de brilhar eclipsada.
Exibida em simultâneo com a divertida quinta temporada espanhola e com o início promissor do sexto ciclo canadense, a season começou com um clássico desafio de looks e performances. Em Queens of the Brit Gala, várias drags do Multiverso deram o ar da graça no tapete vermelho: Angeria Paris VanMicheals, Baga Chipz, Marina Summers, Plane Jane e Tessa Testicle marcaram presença de forma breve, coroando a vitória de Elle Vosque.

No primeiro Lip Sync, Nyongbella dançou ao som de Von dutch, mas Pasty foi salva por uma ferramenta narrativa usada apenas nesta premiére: a Lucky Cow. Mecanismo que salvaria uma das três rainhas do Bottom, caso RuPaul eliminasse-a e o grupo, em maioria, escolheria-a como a sortuda.
Se tal artimanha funciona bem mundo afora (caso do Golden Beaver no Canadá e, para certa extensão, do coração partido na Espanha), é por conta de sua posição imutável, em escolhas que revelam estratégia e alianças. No UK 7, a Vaca da Sorte sumiu e não influenciou a competição. Se RuPaul apenas anunciasse uma estreia sem eliminação, o resultado seria menos confuso.

A ideia de homenagear o passado da franquia continuou no desafio de costura que, em duplas, selecionava materiais de outras temporadas britânicas para que as competidoras construíssem looks novos. Sally™ arrematou o broche sem competição aparente, numa criação de muita identidade. Mas foi Bones, medalha de prata na semana, que começou a subir aos olhos da produção.
No lado da balança que pendeu para baixo, Pasty não escapou uma segunda vez da guilhotina e assumiu o posto de Pork Chop. Ela perdeu a Dublagem de Heartbreak (Make Me a Dancer) para Viola, rainha jovem que participou do Queen of the Universe e chegou de boca cheia ao Ateliê. Sua arrogância não foi recompensada com louros dos jurados, e acarretou numa eliminação na Battle of the Brats.

O episódio de Girl Groups não usou Charli xcx na trilha sonora, mas acabou com a trajetória de Viola, ao passo que coroou Bones, a enigmática e hipnotizante drag da Moda. Para cada empurrão da produção para suas favoritas, queens não-brancas eram jogadas entre as Piores, com a carismática Nyongbella começando sua trajetória de Dublagens.
O agouro de todo fã chegou em Sweety Darlings!, desafio de atuação com passarela temática do programa Ab Fab. A comediante nata Bonnie Ann Clyde venceu, e Bella, do alto de sua maquiagem colorida e de seu sotaque quase que fantasioso, foi mandada para casa.

O Show de Talentos aconteceu no meio da competição, com La Voix, vice-campeã do ano anterior, ajudando as queens em suas ideias com dicas e direcionamentos. Talent Ahoy! viu, mais uma vez, o descaso com as drags esquecidas pela produção. Silllexa Diction, vindo de uma passagem pelo Bottom, venceu o desafio com uma rotina burlesca que RuPaul ama premiar.
A rápida participação de Chai T Grande, eliminada no Lip Sync contra Bones e a Miss Simpatia da temporada, desapontou os fãs e aqueles que aguardam ansiosamente a escalação e a apreciação de drags asiáticas nas temporadas europeias. E quem esperava mudanças no tabuleiro saiu chateado em Peter Pansy: The Rusical, quando Elle Vosque voltou ao pódio, desta vez acompanhada por Paige Three.

Celebrada nas redes sociais e figura presente nos círculos que envolvem outras RuGirls, Paige passou por maus bocados ao ser criticada por visuais semelhantes e pouca versatilidade. No papel de Peter Pan, ela usou os anos de teatro musical a seu favor e, junto de sua Wendy, levou um Broche para casa.
E nem o Win na Costura livrou Sally™ da eliminação, contra uma inspirada Tayris Mongardi ao som de Shirley Bassey em Don’t Rain On My Parade. A queen negra destacou-se pelo carisma e pelo romance com Catrin Feelings, mas não caiu nas graças de Ru e dos jurados, patinando entre ser salva ou estar entre as Piores da Semana. Acabou eliminada na quinta posição, antes da Grande Final.

Bones venceu um Reading Challenge sem muitas gongadas memoráveis, sucedido por um Snatch Game diferente do ordinário. Snatch Me Out! reuniu imitações de Liam Gallagher, Cher (como uma Cadeira), Bonnie Tyler, Jojo Siwa, Alexa, Lady Cassandra e Matt Lucas. Subvertendo o que entendemos possível na comédia, Bonnie venceu ao viver a diva pop máxima, trocando o Cher original pelo homônimo Chair. Não muito atrás, a Jojo de Elle diferenciou-se da imitação de Lemon no passado ao abraçar a nova era da celebridade juvenil.
No Bottom, a amizade de Bones e Paige foi testada ao som da batida de Tainted Love. A primeira ficou, e a segunda, uma competidora com pinta de favorita e arquétipo de finalista, se despediu do Ateliê antes de chegar ao final da corrida. The Hun Makeover determinou o Top 5, com a chocante (embora não surpreendente) saída de Bonnie, apesar de seus dois broches e histórico cheio de louvores. Bones recuperou-se do Bottom com um desfile de cair o queixo.

E Catrin Feelings, até então uma presença constante entre as Melhores, sem nunca surrupiar um Broche, somou suas duas piores performances nos episódios derradeiros. Eliminou a amiga Bonnie e a namorada Tayris, depois de um Roast decepcionante. Bones e Elle, do outro lado da equação, superaram as sabotadoras internas e saíram por cima; com três Wins e 2 Dublagens, Bones chegou à Final com todo o momentum que esperamos de uma campeã.
Faltou, por assim dizer, em seu esqueleto, o apelo da audiência por sua coroação. Das 4 finalistas elencadas pela produção do Drag Race britânico, faltou também a centelha de emoção e competitividade que vibrou nas corridas de Danny Beard, Ginger Johnson e Kyran Thrax, olhando só para as coroadas recentes do show.

O último episódio seguiu à risca os moldes da franquia, com as conversas francas com Ru e Michelle e os discursos emocionados para as fotos da infância. Ponto positivo para duas mudanças que tornaram a experiência mais prazerosa de assistir: a rápida aparição dos pais das queens e, mais tarde, a watch party das fitas de inscrição das finalistas. Guiando o clima, Kyran Thrax brilhou – e passou o manto para Bones, vencedora do Lip Sync pela Coroa contra Elle Vosque ao som de You Make Me Feel (Mighty Real).


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