Em tempos de vitórias controversas das temporadas All Stars, a franquia francesa desviou de polêmicas com uma gama de rainhas queridas, desafios interessantes e algumas das melhores passarelas de todo o panteão de Drag Race. O primeiro All Stars France terminou em nota de glamour, com final ao vivo no teatro Olympia e a bem-vinda coroação de Mami Watta.
O amargo deixado pelo vexatório All Stars da Espanha foi dissipado logo na estreia da corrida de Nicky Doll. Na verdade, a promo temática de deusas e guerreiras trouxe frescor e demonstrou o nível de crescimento e capricho das dez competidoras. Da primeira temporada, voltaram Kam Hugh, Elips, La Big Bertha e Soa de Muse. Da segunda, voltaram Piche, Moon, Punani e Mami Watta. E da recente terceira temporada, estavam aqui Magnetica e Misty Phoenix.

O All Stars substituiu uma eventual quarta temporada no calendário francês, e trouxe até novos jurados fixos. De resto, a fórmula segue intacta: as duas melhores drags da semana dublam por dois mil e quinhentos euros, um Nicky Badge e a chance de eliminar alguém. O prêmio final, de forma inédita, inclui um cheque de trinta mil euros.
O Show de Talentos abriu a temporada, que viu Magnetica arrematar o Reading. A queen de origem boliviana causou suspiros na audiência com os looks malucos e conceituais, mas falhou em transmitir o resto de seu talento para os demais desafios do programa. Infelizmente, o destino repetiu-se, e Mag saiu como Porkchop – mas não no primeiro episódio.

Mami Watta venceu o Lip Sync contra Misty Phoenix e escolheu o batom de Bertha, mas Nicky não deixou ninguém sair. A passarela de ouro desempenhou papel decisivo, já que os dez visuais foram estupendos. Destaque para Soa e sua inspiração em Oxum, com direito a beijo para o Brasil – influência de sua sister do Global All Stars Miranda Lebrão, talvez?
Na hora do Ball, times são escolhidos e uma certeza impera: desta vez alguém sairá. Em Fashion Houses, as queens desfilam coleções, além de looks inspirados em asas e na mudança do Dia para a Noite. Criando o padrão que todo desafio de design e aparência deixará na season, Elips e Kam Hugh são o Top 2. Com Soa no Bottom, as queens da primeira temporada não hesitam em eliminar quem repetiu uma aparição nas Piores, Magnetica.

Soa, que acaba eliminada na semana do Golden Snatch Game, representa uma figura dicotômica na franquia. De finalista na season 1 para saco de pancadas no Global, a queen volta ao Ateliê gigante em sua arte, mas pouco afeiçoada aos pedidos do programa. Misty venceu o Lip Sync contra Punani e eliminou a veterana, depois de um desafio ao estilo do Family Feud e com direito a coral das queens no final.
É neste terceiro episódio, pela passarela de inflados e bexigas, que Moon começa sua elevação ao posto de figura quase mística na season. Ela fala do sonho de engravidar e, por ser uma mulher trans, não ter essa possibilidade. Na passarela, apesar de Salva, a queen suíça é destacada por Nicky, que elogia o trabalho até então e, especialmente, o vestido angelical acompanhado do barrigão.

Única queen das que chegaram até as semifinais sem um Broche para chamar de seu, Moon esteve entre as figuronas da competição. Sempre com visuais arrojados e presença de palco que não vende em loja nenhuma, ela relembra a desistência na temporada 2 e o crescimento que viveu, tanto em sua drag quanto em sua feminilidade, aceitando um posto de ícone trans e dentro do panteão do Drag Race internacional. Quando é eliminada da competição, em quinto lugar depois de um Roast bem feito, Moon sai de cabeça erguida e orgulhosa.
Se as semanas foram se acumulando com decisões respeitando o track record, o desafio dos Grupos Musicais remexeu a competição. Punani, uma das duas melhores na semana anterior, foi eliminada na seguinte, por uma obstinada Mami Watta. Kam Hugh, que foi Bottom no Snatch Game, se salvou da guilhotina, numa passarela dedicada às cirurgias plásticas, e palco de diversas apresentações memoráveis.

Mami, eventual campeã, foi quem mais venceu Desafios e Dublagens, além de centrar sua evolução em cada passo que dava na runway. Desde a entrada, que elevava o burrinho do Rusical, a drag queen nativa da Costa do Marfim enfim cresceu à altura de seu potencial e suas ideias. No processo, eliminou suas companheiras, mas o fez com certeza e muita segurança, mesmo quando a decisão parecia avessa às expectativas do grupo.
No Makeover das Celebridades, a dupla dinâmica do design voltou ao Topo, com os mesmos resultados do Ball. Elips venceu Kam, e mandou embora La Big Bertha. A partir deste momento, ficou claro que a produção enxergava com clareza um quarteto finalista e faria o possível para mantê-lo intacto. Isto é, salvar Piche do Bottom, apesar do look olímpico gritar falta de preparo e menos ainda de capricho. Ao posicionar Moon em seu lugar, o programa selou o destino.

Emulando o melhor do Eurovision, a semana 6 mandou Kam embora, com lágrimas nos olhos e um misto de dever cumprido e tristeza profunda. Piche conquistou seu tão suado Broche, Misty caiu no Bottom por acaso do destino e Moon permaneceu nula na tabela que contabiliza pontos, vitórias e badges.
O desafio das semifinais é um Roast ao estilo de cerimônia de premiação – lembramos do Despy Awards, certo? Aqui, Mami confirmou o favoritismo que dormiu nas semanas que a diva batia entre as High mas não no Top 2, e Misty foi saudada pela performance ao longo da temporada e não necessariamente na tarefa presente. Com Elips salva, a decisão de mandar embora Moon, sem broche ou wins, em vez de Piche, recém-vencedora dos dois desafios, foi desoladora mas previsível.

Com mini-desafios icônicos (contando até com o retorno de Lova Ladiva e seu Weakest Heel), a temporada também serviu de saudação ao legado da arte drag do país. Até as winners deram as caras: Le Filip com uma cameo no Talento de Misty, e Paloma num mini-challenge de comédia e brevemente na Final. Keiona, segunda campeã da franquia, foi jurada de Drag Race Brasil no dia da final do All Stars.
E que Finale de fôlego e amplo valor de produção: até Lady Gaga mandou uma mensagem, abrindo o número de Abracadabra, a segunda vez que a canção da Mother Monster é usada para coroar uma Campeã em 2025. Falando sério, uma season com a presença de Marion Cotillard no painel de jurados não tinha como dar errado.

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