O toque de um telefone cor-de-rosa mudou o rumo da terceira temporada de Drag Race France. Introduzido no Baile, o instrumento ganhou descrição misteriosa: se soasse, Nicky Doll atenderia e o Desafio continuaria. E tudo começou como um susto – as queens precisariam, no período de 1 hora, voltar para o Ateliê e construir um objeto para adornar a cabeça e combinar com o look costurado.
Depois, na metade do Snatch Game, elas teriam de se trocar, e novamente ao longo dos próximos sessenta minutos, vestir-se como o segundo personagem do Desafio: enquanto Lula Strega e Ruby on the Nail triunfaram justamente na confiança que as piadas iniciais proveram, Le Filip se afundou e precisou Dublar para ficar.
A última instância do telefone veio na semifinal, quando Nicky apresentou uma tarefa inédita: estilizar uma peruca e vestir uma roupa que combine com o cabelo. Na marca dos vinte e cinco minutos, pareceu estranho preencher um capítulo tão importante apenas com isso. Então, o toque: elas deveriam escrever piadas para o Roast da campeã anterior, Keiona, novamente dentro de uma hora. Suor, terror e pincéis de maquiagem se misturaram aos papéis e canetas disponíveis para rascunhar.
No fim, o top 5 conseguiu. Mas ainda faltava uma parcela generosa de tempo até os créditos subirem. Volta a soar o aparelho, e a fase final do capítulo era escrever versos, bolar uma coreografia e performar no palco ao som de Secouer, secouer. Um desafio de criação, com comédia e dança. Foi assim que Nicky, ao lado dos fantásticos jurados Daphné Bürki e Kiddy Smile, testou suas meninas.
O telefone mudou o jogo e as regras, tanto como o Castor Dourado o fez na season 4 do Canadá (e voltou à tona no vs. The World). A manobra de produção mostra como o time responsável pelo Drag Race francês acredita no propósito de reinvenção e busca surpreender e deleitar o público fiel. Não é por acaso que a temporada 2 choveu elogios, e as participações internacionais de Lolita Banana e La Grande Dame reafirmam a força da arte europeia.
Fresca e saborosa, divertida e contagiante: a temporada 3 escalou um elenco enxuto, bolou desafios de máxima criatividade, e ainda não buscou se apressar no ritmo ou imitar outras versões do programa. Uma estreia com número burlesque melhorou o esboço do Desafio apresentado no Down Under 3, que ganhou sequência com um Show de Talentos à altura do passado e, depois, a implementação do telefone.
E até as eliminações, mesmo as iniciais, deram conta de traduzir a dimensão e as características de suas queens. Afrodite Amour saiu como Porkchop, mas encantou. A boliviana Magnetica arrasou nos looks, e a cômica Edha Noire compartilhou questões pessoais e familiares que muito agregam ao centro dramático e educativo do programa.
Miss Simpatia, Norma Bell foi outra que quebrou as barreiras culturais e saiu das Ilhas de Reunião para ganhar a Premiere, destruir tudo no Rusical e mostrar a beleza que carrega no sorriso e no coração. A espanhola Perseo, com apenas vinte e um anos – e menos de 2 de experiência como drag, representou as Ilhas Canárias e derreteu os sentimentos das nações quando deixou a competição no Makeover. Nicky Doll não mentiu quando, igualmente emocionada, garantiu que o futuro é brilhante e desbravado.
A apresentadora, que foi a terceira eliminada da 12ª temporada da série americana, carrega o carisma mais brilhante e o zelo mais poderoso entre todas as hosts da franquia, demonstrando carinho, atenção e respeito com suas filhas. E que desfiles são os de Nicky, sempre inovando, ousando e servindo temas, homenagens e carão. Na season 3, a competidora Kam Hugh, da s1, foi a responsável pela make da Mama Nicky.
Comandando mini-desafios fantásticos (de uma sessão de massagens, a um jogo de bingo-Twister e o retorno de Lova Ladiva em um show de perguntas e respostas), Nicky ousou e recompensou com o rumo da temporada. E até queens que não acumularam wins puderam brilhar. Caso da jovem e talentosa Misty Phoenix, e da sensação do ano e campeã, Le Filip. Primeira croata a competir em Drag Race, ela fez rachar de rir, emocionou no depoimento sobre vícios e deu um espetáculo no Rusical dedicado a Celine Dion. Tornou-se, dentro do Multiverso, a segunda coroada sem vitórias individuais.
Não fosse a predileção e a babação de ovo para Leona Winter, Filip poderia e deveria ter vencido aquele capítulo cantado. Winter, que tem no currículo uma vitória na competição The Switch e uma derrota em Queen of the Universe, chegou com pinta de favorita e favorecida. E embora sua drag seja feita de esmero e cuidado, os fãs não demoraram a criticar posicionamentos passados, como o caso de blackfaceque protagonizou no reality que venceu.
A questão de apropriação cultural também veio à tona na passarela em que Kiddy Smile comentou as tranças usadas por Leona. Na Final, o segmento com sua entrevista retornou ao assunto e seu pedido de desculpas. Fato é que, não fosse a repercussão da audiência online, e a finale gravada na semana anterior à exibição, Winter poderia ter se safado e saído vencedora. Ainda bem, o pior não aconteceu.
Em ano olímpico, a produção dedicou um episódio ao evento, com direito a passarela em homenagem à icônica tocha. Além disso, notou-se o cuidado com o trato de temas sensíveis, em especial no Makeover. Com a participação de membros idosos da comunidade LGBTQIAPN+, as queens ouviram histórias de tristeza e orgulho, ao passo em que compartilharam o palco, e a maquiagem e o glamour, com verdadeiros heróis da causa na França.
Vice-campeã, Ruby on the Nail começou a temporada com duas passagens pelo Lip Sync, e encontrou no Snatch Game duplo (acompanhado da passarela com destaque para as vilãs), sua volta por cima. Venceu também o Makeover, e chegou à Final com status de azarona. A outra beldade condecorada do quarteto foi Lula Strega, outra que amargou um Low na estreia e de lá, só cresceu nas pesquisas. E pode computar 2 Wins na conta dela, que arrasou tanto no Ball, quanto na disputada semifinal.
Com a Grande Final novamente gravada ao vivo, em um teatro luxuoso e com participação das irmãs da season 12 da apresentadora, Drag Race France apenas atesta sua assinatura inigualável dentro do Multiverso de RuPaul. E a visão não é só de quem assiste e admira, já que até os patrocinadores aumentaram em 2024, com cada queen vitoriosa da semana levando mil euros e um ano de Deezer para casa. Os tempos mudam, mas uma coisa é certa: Nicky Doll constrói seu império com paciência, precisão e muitas gargalhadas.
Deixe um comentário