Com três ciclos que se assemelhavam tanto em local do crime quanto nos culpados, Only Murders in the Building tomou a decisão mais certeira: afastar-se por completo do edifício Arcônia. Na quarta temporada, os protagonistas são atraídos para a ensolarada Los Angeles com um convite praticamente irrecusável.
Depois de serem eles mesmos os agentes de investigação e da lei, Charles (Steve Martin), Oliver (Martin Short) e Mabel (Selena Gomez) se tornaram objeto de atenção. Como a produtora Bev (Molly Shannon) apresenta, a vida do trio vai se transformar em filme!
E não é qualquer filmeco de segunda linha, não. No elenco principal, Eugene Levy será Charles, Zach Galifianakis viverá Oliver e Eva Longoria interpretará Mabel – ou melhor, uma versão mais velha e “adequada”, de acordo com os grupos de pesquisa. A metalinguagem, presente desde o princípio da série, ganha tons absurdistas, até mesmo na mímica de momentos que assistimos no passado.
Mas, como sempre, uma morte é o centro das atenções. Como visto no final da temporada 3, a dublê Sazz (Jane Lynch) foi assassinada, no que parecia ser uma emboscada para o próprio Charles. Em transe pela possibilidade de serem alvos do matador da vez, os personagens passam a trabalhar entre a sombra e a dúvida.
Entram em cena novos rostos, os Westies, vizinhos do lado oeste do Arcônia e que vivem em condições menos favoráveis, com contratos de sublocação e um mistério gigantesco na forma de Dudenoff, papel do sempre charmoso Griffin Dunne. E se não bastasse um trio de podcasters, os atores que vivem elas estão na cola, farejando qualquer migalha de motivação ou nuance.
Apesar de morto, Paul Rudd encontra brecha para continuar na folha de pagamento, enquanto a Loretta de Meryl Streep aparece de vez em quando – muito provavelmente em busca de mais uma indicação ao Emmy, desta vez sob a alcunha de Atriz Convidada. Generosa no que diz respeito ao trato de seus personagens, humanos, falhos e adoráveis, a série não tira o pé do freio e brinca com os formatos.
O instigante sexto episódio mergulha na origem das Irmãs Brothers, diretoras do filme baseado nos crimes do Arcônia, e discípulas estranhas e suspeitas de Dudenoff. Montado apenas usando imagens das mais diversas câmeras de segurança e dos celulares, o capítulo é um exemplar na vasta lista de homenagens ao Cinema.
Com referência aos filmes de Alfred Hitchcock, François Truffaut e até P. J. Hogan, a 4ª temporada chama Melissa McCarthy para uma pontinha especial, com direito a quebra-pau contra Streep. O que muda, em todo caso, é a virada do roteiro, que subverte as expectativas, volta em buracos narrativos da season 1 e demora a elucidar suas questões primordiais.
Para quem estava farto dos mistérios evidentemente simples e do jogo de gato e rato que se estendia por dez capítulos sem razão de ser, o time criativo inovou e mesclou histórias sobre luto (e todo o histórico soturno e deprimente de Sazz, de dublê à roteirista em falência), com temas de desigualdade e fraternidade (com os Westies e sua família escolhida) e o verdadeiro mistério do ano: não apenas quem matou a dublê de Charles, mas aqueles responsáveis por todas as pontas soltas que tiraram o sono dos nossos queridos e estimados protagonistas.
Na 4ª temporada, Only Murders in the Building se joga nos bastidores e na tramitação de um set de gravações. O convidado Ron Howard revive um trauma que conecta o passado ao presente, ao passo que o gancho para o já confirmado quinto ano da comédia atira perto demais do coração. De volta ao Arcônia, os podcasters poderão, enfim, calçar as botas de detetives que tanto negaram nos anos de caos e correria nova-iorquina.
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