O mundo drag estava em crise: na Espanha, uma coroa cotada. Nos Estados Unidos, a caridade gerou resultados ruins. O Canadá tinha uma única missão, a de reviver o cenário do All Stars – e ele conseguiu. A segunda temporada do Vs The World começou com vaias da audiência, mas encerrou o sexto episódio com as gargalhadas em fervor.
Do “the world”, teve pouco. As nove queens vinham dos EUA, do Reino Unido e da França, além de três representantes locais. Pior: a maioria competia pela terceira ou quarta vez. O que poderia ser sua maldição, porém, fez da temporada a mais dramática e peçonhenta em anos, exatamente da forma que os fãs pediam.
Barraco na entrada, discussão no Ateliê e chororô no Untucked foram os ingredientes ideais para limpar o amargo das primeiras impressões. Sobre o elenco, a escalação fez lembrar o All Stars 4, quando era óbvio o desnível de algumas queens com relações às outras, favoritas da produção e da edição.
As primeiras eliminadas, no retorno do formato do Lip Sync pela Sobrevivência e a implementação da Castora Dourada, foram quem a promo denunciava: La Kahena, Le Fil e Tynomi Banks. A PorkChop francesa fez história e levou o boot inicial de novo, enquanto o britânico ficou para trás no desafio que imitava The Traitors e Banks caiu no mesmo buraco do passado. Existem, é claro, boas queens que não se adaptam ao formato competitivo do programa, e Tynomi provou o ponto.
Depois disso, o Top 6 se digladiou pelo esperado e cobiçado título de Queen of the Mother-Pucking World. As americanas vinham de grupos distintos, com Eureka! tendo noção de sua má fama e da aversão por parte das competidoras (e dos fãs). Kennedy Davenport e Alexis Mateo, estrelas do spin-off de Vegas, retornaram ao Ateliê sem pressão, mas com o fogo para competir.
As surpresas estavam nas escolhas de Lemon e Cheryl (sem o Hole), saídas diretamente do UK Vs The World original. Brooke Lynn Hytes pareceu ter intervindo no negócio para tirar o nome do Canadá da lama, ainda mais depois de suas de suas garotas irem embora nas estreias anteriores. Lemon esbanjou a simpatia que lhe foi capada no Reino Unido, passando as 5 semanas competitivas entre as Vitórias e as Melhores.
Cheryl, longe de ter um desempenho medíocre, conquistou 4 posições no High e apenas um Bottom, justamente no Ball – mesmo episódio que a eliminou antes. As amigas se aproximaram após o trauma de ter RuPaul falando Sashay Away no começo da season, e vieram ao Canadá com muito a provar. Para a sorte da produção, os planos saíram melhor que o combinado.
Até Miss Fiercalicious, que amargou um quinto lugar e nenhuma chance de presentear alguém com a Castora, brilhou. Na passarela, arrebentou com visuais inspirados pelo Vestido de Prolapso, pela Mãe Natureza, pela Inteligência Artificial e pelos astronautas. Moldada para abalar no formato de reality show, Fierce exibiu a petulância e desmascarou a sabotagem que sofreu, escrevendo uma mensagem profética (e histórica) quando foi mandada embora por Alexis.
O retorno do formato de Lip Syncs do All Stars 1 era um pedido milenar dos fãs, fartos do mesmo mecanismo de batons e eliminações chocantes. As americanas foram tão beneficiadas quanto prejudicadas pelas regras: das 5 Castoras distribuídas, Alexis e Kennedy ficaram com 2 cada, e Fierce com outra. E tratando-se de um elenco versado em performance, as dublagens foram ótimas de assistir.
Nos Desafios, os roteiristas surpreenderam com misturas e criações inéditas, mais uma vez provando como o Canadá se preocupa em evoluir e testar novas fórmulas. A estreia teve os Grupos Musicais, seguida do The Hole, esquete de improviso baseado no reality-fenômeno do momento. Depois, um Baile focado no futuro, com categorias imitando IA, robôs e o look da Supermodelo do amanhã, e uma Batalha de Leitura. Nessa variação do Reading, as queens eram divididas em duplas e gongavam uma à outra no palco. A vencedora ia para o Top, e a perdedora para o Bottom.
O quinto desafio chamou atenção desde o gostinho no trailer. Snatch Game: The Rusical experimentou a mescla de dois dos momentos mais marcantes e árduos da competição. O Top 5 preparou os personagens e, entre as canções metalinguísticas sobre o programa, respondeu às perguntas de Hollywood Jade, o coreógrafo que interpretou Brooke.
Um tanto desengonçado, mas inteiramente louvável, o desafio tem tudo para ser aperfeiçoado e implementado para as futuras temporadas. Idem para a vibe do elenco, que não hesitou em reviver dramas antigos, trazer fofocas de fora do estúdio e bater boca sem igual. Imagine uma versão com menos risco de Drag Race, e aí está qualquer temporada do Canadá, a querida Fazenda do submundo criado por RuPaul.
No fim, o clima de animosidade morreu junto da eliminação de Fierce, que até tentou cutucar as sisters na decisão de Miss Simpatia, mas nada surtiu efeito. Com um elenco afiado na arte do reality, a temporada dois do Canada Vs.The World inovou nos mini-desafios (vento na cara e teste de elenco com captação de efeitos visuais), nos visuais (com direito a montagens com os embates em Leitura e nas Dublagens) e arrasou na presença quase permanente de Sarain Fox na bancada de jurados.
E por falar neles, Brooke comandou com humor e visuais bafônicos, ao lado de convidados ilustres. Além da campeã Ra’Jah O’Hara, que abriu o coração e devolveu o carinho do país desde o seu reinado, também teve gostinho do talento de Alessia Cara na semifinal, com Lip Sync de sua versão do tema de Moana. Em suma, no Norte, as coisas continuam muito bem, obrigado.
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