Assassinato na Casa Branca faz mistério aconchegante

Cancelada antes do anúncio das indicações do Emmy 2025, a comédia de Uzo Aduba surgiu tímida na lista

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Se dependesse dela, a detetive Cordelia Cupp (Uzo Aduba) passaria cada segundo de cada dia com binóculos numa mão, caderno na outra, observando pássaros por aí. Em Assassinato na Casa Branca (The Residence), comédia da Netflix com produção de Shonda Rhimes, a investigadora não tem escolha e logo é arrastada até a cena do crime. 

O presidente dos Estados Unidos e seu marido são os anfitriões de um jantar com a comitiva australiana, num gesto de paz entre as nações. Alguns andares acima do salão de festas, o secretário-geral da Casa Branca, A.D. Wynter (Giancarlo Esposito), é encontrado com os pulsos cortados e um bilhete de suicídio. Mas as coisas não são como parecem.

Esposito substituiu Andre Braugher, que faleceu durante a paralisação das gravações da série por conta da greve dos roteiristas; The Residence é dedicada ao falecido ator (Foto: Netflix)

Criada por Paul William Davies (roteirista de Scandal), a série de oito episódios acompanha a investigação na noite de gala em contraste a uma audiência frente ao Senado meses depois do crime. As peças do quebra-cabeças são reveladas aos poucos, com a protagonista perguntando, pensando e anotando.

Ciente das dezenas de detetives que desfilam pela cultura pop, o roteiro é ágil e faz humor com cortes, recontos e até imaginação. O trabalho de montagem é tão elevado quanto o dos figurinos e do design de produção, que constrói uma Casa Branca suntuosa, colorida e chique até os tapetes e os castiçais.

A direção é dividida entre Liza Johnson e Jaffar Mahmood, com roteiro baseado no livro de não-ficção escrito por Kate Andersen Brower sobre o mundo interno da Casa Branca (Foto: Netflix)

Na lista de suspeitos, por mais que Cupp não acredite na existência de tais, está todo o proletariado que faz a Residência funcionar. A chef de pavio curto, o confeiteiro que odeia a cozinheira, a copeira chegada na bebida, a vice-secretária, e por aí vai. E sem contar os figurões políticos, os agregados familiares e um par de celebridades que, por acaso, compareceram ao jantar: Kylie Minogue e Hugh Jackman. 

Para todo o poder do elenco e do roteiro, a Netflix não enxergou futuro em The Residence, anunciando o cancelamento antes mesmo da Academia de TV anunciar seus candidatos ao prêmio de 2025. Pouco importou, com Aduba integrando a lista de Atriz em Comédia, na única lembrança da produção nas categorias principais. No Creative Arts, foram mais 3 menções.

No Emmy 2025, The Residence foi indicada aos prêmios de Design de Produção, Música de Abertura e Efeitos Visuais em Episódio Único (Foto: Netflix)

Nem Mrs. Marple, nem Benoit Blanc, Cordelia Cupp é alguém incomum mas muito querida e amigável à audiência. O vai-e-vem entre testemunhas apenas reafirma os dotes artísticos de Uzo Aduba, que é figura cativa ao Emmy e acumula três troféus entre seis indicações. Ela interage com os mais diversos tipos, mas não deixa a integridade de lado ou a personalidade ser eclipsada.

Até mesmo o amor pelos pássaros é usado como ferramenta de desenvolvimento e afeição. A leitura de seu hobby, e seu passado na infância, pelas lentes de alguém autista apenas enriquece o léxico midiático para esse tipo de transtorno e como as pessoas que vivem com ele são. Em um Emmy com a presença de Nathan Fielder (O Ensaio) falando diretamente sobre o diagnóstico, e a marcante atuação de Taylor Dearden como a Dra. Mel King em The Pitt, a discussão é rica na TV. 

O elenco é enorme, com atuações notáveis de Randall Park, Ken Marino, Susan Kelechi Watson, Jason Lee, Isiah Whitlock Jr. e Paul Fitzgerald (Foto: Netflix)

Cada episódio de Assassiato na Casa Branca é nomeado em referência a um mistério do Cinema ou da Literatura, aumentando ainda mais o clima do jogo Detetive em um cenário inusitado. Não foi o Sr. Mostarda com o castiçal na biblioteca, mas as resoluções aqui são complicadas na medida certa, e satisfatórias em dose equivalente. Pena que a detetive Cupp não terá a chance de resolver crimes em outras casas icônicas do mundo, como o Palácio de Buckingham ou o da Alvorada.

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