Lee Raybon (Ethan Hawke) é jornalista, mas prefere se definir como “truthstorian”, contador de histórias verdadeiras, em tradução livre. Ele escreve para uma revista impopular, e vive em Tulsa, dentro da livraria que é dono. É pai de Francis (Ryan Kiera Armstrong), ex-marido de Samantha (Kaniehtiio Horn, a Deer Lady de Rez Dogs), chefe de Deidra (Siena East) e começa The Lowdown metido numa encrenca daquelas.
Depois de publicar um artigo que desnudava podres da família Washberg, e consequentemente do candidato a governador Donald (Kyle MacLachlan), o irmão do político se suicidou. Tudo é estranho e suspeito, e, como Lee não demora a descobrir, é também falso e incriminatório.

Criada por Sterlin Harjo, o mesmo genitor da fantástica e subestimada Reservation Dogs, The Lowdown retorna ao cenário de convergência indígena com Ethan Hawke inspiradíssimo na pele de um encrenqueiro charmoso. Ao longo de oito episódios, a produção do FX passeia por temas de colonialismo, violência política e o poder dos grandes bilionários e dos religiosos do interior norte-americano.
E não faltam personagens interessantes e complexos na primeira temporada, a começar pelo protagonista, mas nunca se atendo apenas nele. Parceiro do futuro governador, o investigador Marty (Keith David) está incerto de seu destino, e se frustra ao perceber que o antigo amigo agora não passa de um empregador qualquer. Suas cenas ao lado de Hawke, inflamadas pelo humor e pela longa experiência dos atores, são ótimos elementos de convencimento para que adentremos neste mundo de faroeste moderno.

Jeanne Tripplehorn defende o papel da viúva que escondia segredos grandes demais para irem ao túmulo junto do marido, e seduz não apenas Lee. Com a filha Pearl, vivida por Ken Pomeroy, ela demonstra a gana que a vaqueira que subiu na vida teve de vestir como armadura em seus anos de boa moça. The Lowdown é ótima em tirar o máximo das interações entre o elenco, alcançando o auge em This Land?.
Wendell está de volta à cidade para o ritual anual que mantém com Lee, permitindo que Hawke mastigue as tirações de Peter Dinklage e nos faça crer, de um segundo para outro, que esses homens são amigos desde antes de Judas perder as botas. Há sentimentalismo, sim, mas o ingrediente principal da receita é a camaradagem e os comportamentos escondidos atrás das muitas farpas e socos trocados.

Até referências aos personagens de Rez Dogs estão na tela, com uma pequena participação de Willie Jack, um vídeo de maquiagem postado por Elora e as constantes menções ao mundo dos adolescentes. Alguns atores fazem participação em The Lowdown, com destaque mais do que especial, e também triste, para a aparição de Graham Greene, falecido em setembro.
Harjo, muito antenado nos trâmites do drama televisivo, homenageia Fargo na maneira que conta a odisseia de Lee, mesclando mistério, tensão e comédia em um retrato ácido e sarcástico do microcosmo do jornalista e rato de biblioteca. Ele irrita tudo e todos, mas ganha na empatia e na prestação de serviços à comunidade.

O tropo do salvador branco é encarado de frente pela série, que mostra a falência e o fracasso da posição em que Lee se coloca – o custo é alto demais, cruel demais e perigoso demais. Quando adentra a igreja que serve de fachada para células neonazistas, o roteiro desvenda o terror de um assunto atual até dizer chega.
No Brasil, em exibição pelo Disney+, ganhou o título de Verdade Oculta – e foi esnobada das listas do Globo de Ouro e do Critics Choice. Elegível para o Emmy 2026, The Lowdown pode marcar o reencontro de Harjo com a Academia de TV e, quem sabe, coroar o que pode ser o ano dourado de Ethan Hawke.


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