Em 1994, estreou o que se tornaria a maior comédia da Televisão, eternizando os seis amigos do Central Perk em encontros desencontros triviais. Lá, a audiência assistiu aos ocorridos na vida de gente grande, com responsabilidades financeiras, sentimentais e físicas. Os trinta anos que separam Friends e Adults denotam mais do que uma geração envelhecendo: também estamos mudando o jeito que enxergamos a juventude.
A cidade é a mesma, mas saem de cena os arranha-céus metálicos e os táxis amarelos, e entra o interior de um sobrado e as diversas aventuras do quinteto que protagoniza a comédia criada pelo casal Ben Kronengold e Rebecca Shaw.

Samir (Malik Elassal) é o dono do imóvel, tecnicamente. Na verdade, os pais estão viajando e deixaram a bela residência aos cuidados do filho e de seus colegas de vida: temos Billie (Lucy Freyer), sua amiga de infância; Issa (Amita Rao), que ele conheceu na faculdade; e Anton (Owen Thiele), que se juntou ao grupo pouco depois. Novo mesmo é Paul Baker (Jack Innanen), o namorado de Issa que se muda com os demais.
Se o trabalho de David Crane e Marta Kauffman na produção de Friends podia ser considerado arriscado e uma aposta no escuro, Adults chega com o terreno bem arejado e cheio de comédias que dividem o ambiente e os temas dos oito episódios da primeira temporada. Seu ponto de inflexão, e principal ferramenta de originalidade, é a fluidez com que desliza o espectador na rotina dos amigos.

Os atores, em sua maioria interpretando papéis de destaque pela primeira vez, arrasam na química e são acalentados por um texto ágil e cheio de tiradas sagazes. Sem falar nas piadas recorrentes, como os diversos filmes a que eles fazem referências sem terem assistido, e a caixa do correio, empanturrada de correspondência há meses.
Sem ficar na zona segura de sátira à geração que acabou de chegar a casa dos vinte e luta pelo pingo de independência e força, Adults monopoliza os enredos ao redor de situações de caráter banal: uma ida ao médico, uma noite de jantar, um rito de amizade, só para refletir a personalidade do grupo em momentos nada premeditados, caso do esfaqueador que ronda o bairro e faz amizade com um deles, e da adolescente que vem de fora da cidade para realizar um aborto.

A única menção ao legado de Friends sai da boca de um quarentão que se destaca justamente pela colisão de ideais e comportamentos com os mais novos. Charlie Cox interpreta esse homem com liberdade cômica arriada pelos anos de Demolidor, no fantástico capítulo Roast Chicken, quando mistura ketamina e carne crua sem perceber o tamanho do desastre.
Anton é o respiro de autenticidade e contenção; Issa é toda feita de impulsos; Billie esconde as emoções muito mal; Samir quer porque quer sair dessa fase empacada; e o sensual, inocente e encantador Paul Baker encara esse mergulho no grupo não como recomeço, mas como expansão da própria personalidade. A curta duração de Adults passa voando e quando você percebe, já está tão imerso pela amizade deles, sentindo-se parte do grupo, e ciente de que seja qual for a próxima enrascada, será imperdível.


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