O filho de Marissa (Sarah Snook) desapareceu. Depois de agendar uma tarde de brincadeiras com outra mãe da classe de Milo (Duke McCloud), a mulher foi surpreendida ao chegar no endereço combinado e descobrir que a idosa que atende a campainha não sabe de nada. Desta premissa, a minissérie All Her Fault corre por oito capítulos numa maratona em busca da criança.
Mas não é apenas o desaparecimento e aparente sequestro de Milo que está em vigor na produção original do Peacock. Baseada no livro de Andrea Mara, a série tem criação e supervisão de roteiro de Megan Gallagher, muito versada na coletânea de vozes e na costura de histórias. Como um mistério digno da Literatura policial, All Her Fault passeia pela família Irvine, seus vizinhos e todos que possam ter contatado Milo e a misteriosa Carrie Finch (Sophia Lillis), possível captora.

No elenco, os atores dividem-se entre suspeitos e investigadores. Peter (Jake Lacy) é o marido perfeito, tão benevolente que cuida do irmão com deficiência, Brian (Daniel Monks), e da irmã emocionalmente instável Lia (Abby Elliott). Colin (Jay Ellis), parceiro de firma de Marissa, também é todo cheio de soluções e favores, ajudando no que pode em uma situação tão catastrófica.
Já Jenny (Dakota Fanning) carrega carga dupla de culpa: foi ela, a mãe, que contratou a babá que sequestrou o filho de Marissa, e é ela quem coloca a carreira em confronto à vida pessoal, irritando o marido (Thomas Cocquerel) ao ocasionalmente pedir que ele busque ou traga o filho da escola. O título entrega a tese: é tudo culpa dela, não importa qual mulher esteja sendo referida.

A babá estrangeira (Kartiah Vergara) que foi enganada pela colega de profissão, a mãe (Linda Cropper) que omitiu alguma informação para proteger a família, a esposa tão ocupada com o emprego que não conferiu o número que a mandou mensagem. A negligência é apontada e encaixotada no âmago feminino, com os homens da história passando entre si a batata quente da culpa e do julgamento.
Michael Peña interpreta o policial Alcaras, na melhor e mais controlada atuação numa carreira pontuada pela comédia. Em All Her Fault, ele abandona o histrionismo para viver um homem profundamente afetado pelas deficiências do filho – e alguém disposto a cruzar a linha da objetividade para que a proteção do garoto se garanta a longo prazo.

Com cara de novela e recheada de ganchos e pistas falsas, All Her Fault dribla os clichês do prestigiado gênero das famílias ricas ao preencher o ambiente vazio com personagens cheios de nuances e segredos valiosos. Snook, no centro de um terremoto estrutural, prova que, em marca maior, o egoísmo, substantivo masculino, pondera sobre qualquer outra ação.


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