O mundo mudou desde 2010, ano em que Kathryn Bigelow tornou-se a primeira mulher a vencer o Oscar de Melhor Direção pelo trabalho em Guerra ao Terror, o eventual campeão dos prêmios da Academia daquele ano. De lá para cá, a cineasta continuou a analisar a frágil psique dos confrontos armados, mas sua voracidade e destreza não permaneceram as mesmas.
A Hora Mais Escura sedimentou o discurso humanitário de Bigelow, que também dirigiu o escanteado Detroit. Após uma pausa na carreira, ela retorna com Casa de Dinamite (A House of Dynamite), que passou por Veneza antes de chegar ao catálogo da Netflix. Na história, a diretora guia o roteiro de Noah Oppenheim (Jackie e Dia Zero) de maneira fragmentada.

O governo dos Estados Unidos recebe o alerta de um míssil nuclear endereçado à Chicago, e poucos minutos separam a explosão programada da cruel realidade. Como um jogo de tensão e suspense, Bigelow fatia o drama e monta um quebra-cabeças de difícil conexão.
O elenco, formado por uma safra respeitável de atores que vai de Rebecca Ferguson a Idris Elba, concatena planos e estipula metas e respostas, mas o fator temporal joga todos numa sinuca de bico sem saída ou solução. Acompanhado pela trilha quase que fantasmagórica de Volker Bertelmann, o filme desconstrói as predisposições do público e retrata a América como uma fonte nada confiável quando o assunto é a segurança.

O linguajar técnico cai redondo na boca dos intérpretes, praticamente todos creditados primeiro com o cargo que exercem na administração e só depois com um nome ou sobrenome. O recado é simples: quando falam, representam a grande máquina que é a política estadunidense – e suas ações respondem ao poder maior.
De uma simples secretária que foi trabalhar sem imaginar o tamanho da confusão que tomaria parte antes do almoço, até o líder da nação, todos ali estão à mercê de um sistema que degrada e pisoteia, enxergando as pessoas como números num gráfico. Bigelow, que no passado provou-se mestre ao tensionar expectativa e horror no Cinema de guerra, desta vez joga para o alto a chance de sublinhar sua retórica, tantos anos depois de exprimi-la no maior palco do mundo.


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