Existe um sentimento palpável na cinefilia hoje, ainda mais para os que estão comumente visitando os catálogos de filmes em cartaz. É uma sensação de estar preso em uma câmara de eco onde melodias familiares são tocadas repetidamente, cada vez um pouco diferente, mas raramente novas. É um diagnóstico de uma indústria avessa ao risco que, confrontada com um cenário de mídia fraturado, aposta cada vez mais em quantidades conhecidas. No entanto, a verdadeira medida do valor de um filme vem, principalmente, da sua justificativa para existir.
Por que essa história, por que agora? O que uma nova obra pode dizer que as anteriores não disseram? Desde as correções de curso calculadas no saturado mercado de super-heróis até a aposta de alto risco em reviver marcos culturais, cada filme oferece uma lição sobre as pressões, armadilhas e potenciais recompensas da máquina de franquias, nesse caso, de Hollywood.
Navegar por essa paisagem de repetições exige um olhar mais atento. Não se trata apenas de separar o bom do ruim, mas de entender as diferentes estratégias em jogo. Há as tentativas de redenção, que buscam consertar legados manchados; as apostas no puro espetáculo visual, onde a história é quase um detalhe; as perigosas viagens nostálgicas para reviver clássicos que talvez devessem ser deixados em paz; e, em meio a tudo isso, alguns raros exemplos que nos lembram como uma franquia pode, de fato, evoluir.

Nessa grande leva de refações, o gênero de super-heróis, no que já foi a força mais dominante da cultura pop, encontra-se em um ponto de inflexão. O público, agora fluente em sua linguagem e convenções, tornou-se mais exigente. A mera presença de um emblema no peito não é mais garantia de sucesso, pelo contrário, pode até significar uma cobrança maior no meio crítico, ainda que a bilheteria pareça mais segura em grandes produções.
Em 2025 o peso das capas é levado por Superman e Quarteto Fantástico: Primeiros Passos. Tentativas estratégicas de resolver problemas que atormentam essas propriedades há algumas décadas. A curto prazo, parecem ter tido sucesso, mas ainda carregam o peso de seus próprios legados e das esperanças de seus Universos. Menos no caso do desesperançoso Capitão América: Admirável Mundo Novo: “Você vai na última festa dA Fazenda?” “Tem que ir né fia, é contrato.”
Já nas apostas anti-heroínas temos Thunderbolts. Uma reunião de anti-heróis e ex-vilões estabelecidos, também não é tão novidade (Esquadrão Suicida já provou que isso funciona, em alguma de suas versões). No entanto, o apelo aqui também foi bem desenvolvido pela complexidade de suas motivações e na volatilidade de suas alianças.
Talvez por ser uma proposta que nasceu de algo que ainda não havíamos visto especificamente na Marvel, tenha o feito ganhar alguns pontos. Essa nos indica a alta em que essa aposta em tons de cinza ressoa com um público talvez cansado do heroísmo preto no branco, de ameaças cósmicas e inclinado a aceitar explorações focadas em personagens moralmente ambíguos.

Algumas franquias operam em uma escala diferente, onde a proeza tecnológica e o espetáculo visual são, na verdade, a atração principal. Esses filmes testam os limites da experiência cinematográfica, mas também levantam questões sobre sua sustentabilidade narrativa a longo prazo. Eles apostam que a admiração e o espanto podem consistentemente superar a necessidade de histórias complexas.
A franquia Avatar de James Cameron representa o auge do cinema como espetáculo, e isso é lindo. No entanto, ainda que sempre valha a pena conferir pelo visual, depois do Avatar: O Caminho da Água, esperamos que Deus nos ajude em um roteiro original para o próximo. Avatar: Fogo e Cinzas pode continuar a compensar essa percebida simplicidade narrativa, ou se arriscar a ser o melhor dos melhores.
Por outro lado, a franquia Jurassic Park já esgotou todas as possibilidades em reboots, rebirths, abordagens e diretores. Nesse novo soft reboot, descrito como uma sequência independente, a Universal Pictures está efetivamente limpando o tabuleiro. O diretor Gareth Edwards, conhecido por seu senso de escala em filmes como Rogue One, assume o comando, e o roteiro é de David Koepp, o roteirista do Jurassic Park original.
A volta de Koepp recaptura o tom de suspense e admiração longa de 1993, em vez de continuar as tramas de ação em grande escala e confusas da trilogia mais recente. No entanto, é angustiante tratar essa saga mais como um conceito perpetuamente reiniciável e bom, como James Bond ou Batman. Não é de bom tom que certas produções soem como um teste para ver se a premissa central — dinossauros no mundo moderno — ainda é capaz de suportar histórias, personagens e atores novos.

A tendência de refazer clássicos animados em live-action é uma das estratégias mais lucrativas e artisticamente controversas de Hollywood. Ela levanta questões sobre o propósito de adaptar e do desafio artístico que o subgênero enfrenta, equilibrando incentivos financeiros massivos com a necessidade de justificativa criativa. Os grandes nomes desse ano nessa categoria são Lilo & Stitch e Como Treinar Seu Dragão.
Como Treinar o Seu Dragão, lançado em junho de 2025, tornou-se a maior estreia da DreamWorks no país e teve a participação de Dean DeBlois, o diretor da aclamada trilogia animada original. Primeiro, atuou como uma potencial salvaguarda para a integridade artística, garantindo que a adaptação fosse guiada pela mesma visão que tornou os originais tão amados. Segundo, desarmou os céticos quanto a necessidade da adaptação, uma vez que seria uma reinterpretação do próprio criador. E é uma ótima história, não temos o que reclamar.
No entanto, também não traz absolutamente nada de novo. Se você já viu a animação, a opção de poder assistir ao longa em live-action soa ser uma escolha como: dublado ou legendado? Em 2D ou 3D? Considerando que o conteúdo é exatamente o mesmo, vai de gosto. Mas algumas coisas podem ser pontos positivos nesse sentido, como o tempo de execução mais longo do filme em comparação com o original (2 horas e 5 minutos contra 1 hora e 33 minutos), naturalmente teriam cenas novas e diferentes, mais desenvolvimento, entre outros pontos — pessoalmente, não notei nada nesse sentido.

Existe uma categoria especial de sequência que carrega um risco maior do que a média. São as continuações de filmes que foram reset culturais, que pareciam ter finais definitivos e extremamente satisfatórios. Que vemos e revemos sempre como se fosse a primeira vez, na Sessão da Tarde ou fora dela. Obras com alma e razões — no plural mesmo — para existir. Tentar continuar essas narrativas confronta o risco de fazer um filme ruim e, pior ainda, manchar o legado do original.
Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda e a sequência de O Diabo Veste Prada (ainda em produção) são os projetos com a ambição posta proporcionalmente ao risco. Talvez não seja possível, mas só por sua existência, essas sequências tentam recapturar um zeitgeist cultural específico. Nesse sentido, uma escapatória lógica se trata da capacidade de usar a passagem do tempo como um tema central, em vez de simplesmente ignorá-la, como em Os Incríveis 2.
E ainda que não tenha se passado tanto tempo, em franquias como Invocação do Mal, temos o desprazer de ver uma grande promessa viver o suficiente para se tornar ruim. O que começou como uma série de terror prestigiosa e aclamada pela crítica, expandiu-se para um universo cinematográfico de qualidade variável. Se cortarmos a segunda metade da franquia, seríamos felizes. Uma boa certeza é que Invocação do Mal 4: O Último Ritual é a última tentativa de gerenciar e solidificar retroativamente um legado que foi manchado pela superexposição.

Existe um subgênero de reboot/sequência que prospera não no prestígio, mas na diversão autoconsciente: Anaconda e M3GAN 2.0. Seu sucesso depende de um delicado equilíbrio tonal, de entender e entregar um tipo específico de entretenimento exagerado sem cair na auto-paródia.
O novo Anaconda, com lançamento previsto para o Natal de 2025, precisa ser tão específico ao ponto de dar a volta e nos divertir, como parecem ser as gravações. Em vez de tentar um remake de terror direto do filme B de 1997, a nova versão com Jack Black, Paul Rudd e Selton Mello já nos traz uma positividade de, vou perder minhas tarde nesse filme no cinema e espero sentir algo. Seja o que for.
Em contraste, M3GAN 2.0, lançado em 27 de junho de 2025, traz uma aposta ousada e divisiva. A prequela é definitivamente um filme já feito. Ela mistura o terror e humor sombrio de uma forma autoconsciente. Um Chuck moderno. A sequência, no entanto, se deleita em sua própria reinvenção na ação, mesmo que isso signifique sacrificar parte do público original. Para alguns, a mudança foi um erro de cálculo, como admitiu o produtor Jason Blum; para outros, é um desvio divertido que pode, com o tempo, dar a volta completa e encontrar seu próprio status e lugar na história.
Em meio a um mar de fadiga de franquia, alguns projetos se destacam como modelos de como construir e manter propriedades intelectuais de forma mais saudável e criativamente gratificantes. Eles oferecem alternativas ao modelo de universo interconectado e à esteira de sequências anuais em que a paciência e a reinvenção são as chaves para a longevidade.
O fato de um longo intervalo entre os filmes ser visto como algo positivo para Tron: Ares é revelador. A dormência pode ser um ativo estratégico, especialmente para franquias de ficção científica de alto conceito. Com lançamento previsto para 9 de outubro de 2025, o filme chega 15 anos após Tron: O Legado e 42 anos após Tron: Uma Odisseia Eletrônica, um intervalo que permitiu não só que a tecnologia cinematográfica avançasse, mas também que os temas do filme se tornassem mais urgentemente relevantes.
A premissa de Tron: Ares, que envolve um programa de IA sendo enviado do mundo digital para o mundo real, inverte o conceito dos filmes originais e se conecta diretamente com as ansiedades e discussões contemporâneas sobre inteligência artificial. Um filme sobre a colisão de IA e humanidade tem uma ressonância cultural em 2025 que simplesmente não teria em 2015, por exemplo.
A longa espera permitiu que o mundo real alcançasse a ficção científica da franquia, dando ao novo capítulo uma base temática mais forte. Passivamente gerenciando a franquia, seu valor pode aumentar e construir uma antecipação genuína em vez de um hype fabricado que comumente vemos por aí. E que venham outros mais, como Duna, Duna: A Profecia, as adaptações de Asimov como Eu, Robô, Foundation, entre outras.

A indústria está, em muitos aspectos, presa em um ciclo de repetição, minerando o passado em busca de garantias para o futuro. No entanto, uma análise mais atenta revela um cenário mais matizado. O problema não é a propriedade intelectual em si, mas a intenção e a criatividade por trás de seu uso. Ao fim das citações e exemplos de modelos dessa grande refação que é a indústria cinematográfica, a franquia Knives Out tem um histórico praticamente impecável e por um bom motivo. Ela representa, talvez, o antídoto mais eficaz para a fadiga de franquia num modelo de negócio que constrói marcas: o modelo de antologia. O próximo filme, Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out, que chega à Netflix em 12 de dezembro de 2025 após uma exibição limitada nos cinemas, continua essa abordagem de sucesso. E que isso mantenha seu legado vivo.
No final, o poder reside no público. O gosto criterioso, a capacidade de distinguir entre uma repetição vazia e uma revisita significativa, é exatamente o que a indústria precisa. Ao recompensar projetos bem-justificados, que têm uma razão convincente para existir, e rejeitar os produtos de linha de montagem, os espectadores desempenham um papel ativo na formação do futuro do cinema, com novas ferramentas ao seu dispor, como o Letterboxd e comunidades em redes sociais. Mesmo em um mar de sequências, reboots e remakes, a criatividade genuína e a execução de qualidade ainda podem, e devem, encontrar um caminho para a superfície. A esperança reside não na abolição das franquias, mas na exigência de que elas mereçam nossa atenção.
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