Rumo ao Grande Mistério: as memórias maternas e materiais da dinastia Presley

Escrito por mãe e filha em momentos distintos, livro de memórias escancara as cicatrizes da fama

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Lisa Marie Presley enfrentou batalhas quase que imbatíveis em sua vida, e as primeiras páginas de Rumo ao Grande Mistério, livro de memórias dela, dão conta de esboçar o futuro. Nestas frases iniciais, uma segunda voz ganha forma: a de Riley Keough, filha de Lisa e neta de Elvis, que tomou conta do projeto depois da morte da mãe, em janeiro de 2023.

A edição, publicada no Brasil pela Rocco com tradução de Ryta Vinagre, distingue os discursos por meio de fontes diferentes. Com o passar das páginas, quando Lisa escreve menos, é Riley quem contextualiza e amplia a visão do leitor. Afinal, como a mais jovem nota: este é um livro de traumas.

“Faço isso com meus filhos às vezes. Olho para eles quando eram pequenos, para seus rostos antes de passarem pelos traumas que passaram, e fico muito triste” (Foto: Rocco)

Por isso, Lisa Marie escreve de forma abundante sobre eles. Na infância, a tempestade midiática em Graceland tornou a mansão em prisão, e as idas e vindas do pai eram demais para o pequeno coração da garota. A memória é dolorosa e muito presente na vida da artista, que revela segredos dos tempos antigos da morada de Elvis.

A relação com Priscilla, apenas pincelada e preenchida por muitas meias-palavras, nunca toma a atenção do livro, e Riley continua nessa mesma toada, com pouco ou nenhum contato com a avó, a quem se refere apenas pelo primeiro nome. E são muitas as figuras emblemáticas da cultura que cruzam o caminho da dupla de escritoras e cantoras.

“Eu me peguei pensando em telefonar para alguém me ajudar a lembrar, mas percebi que não restou ninguém para quem ligar” (Foto: Rocco)

Um capítulo de Rumo ao Grande Mistério é todo ele dedicado ao casamento de Lisa Marie e Michael Jackson, atravessando as denúncias contra o cantor e até os problemas com abuso de substâncias. Nenhum esqueleto é escondido, e Lisa Marie faz questão de desnudar os pormenores de uma vida bastante conturbada.

Riley surge primeiro como narradora onisciente para depois assumir o guidão da história e dar conta de narrar, em sua própria experiência, o nascimento das irmãs gêmeas, quando esta já era adulta, o suicídio do irmão mais novo Ben, e os meses derradeiros da vida da mãe. Com atenção a datas, detalhes e descrição dos sentimentos crus, a protagonista de Daisy Jones & the Six trabalha com o luto amarrado ao coração.

Priscilla, Austin Butler, Lisa Marie e Baz Luhrmann no Globo de Ouro 2023, dias antes da morte da artista (Foto: Reprodução)

Para quem sabe pouco ou quer conhecer mais da mística de uma das dinastias mais glamourosas e sofridas do zeitgeist norte-americano, o livro de memórias oferece suficiente material para saciar algumas vontades. Fica claro o interesse que Elvis e sua figura detém na sociedade, considerando também os lançamentos da cinebiografia protagonizada por Austin Butler e dirigida por Baz Luhrmann, e a do filme de Sofia Coppola com Cailee Spaeny. No Brasil, o livro de memórias de Priscilla também ganhou nova edição, aumentando o repertório do tema. 

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