O fetiche mercadológico pelas refilmagens é a engrenagem que melhor move a geringonça que se tornou Hollywood, e Como Treinar o seu Dragão chega quebrando o teto de vidro da DreamWorks. É o primeiro live-action do estúdio de animação e também o primeiro filme que não é propriedade da Disney transformado em carne e osso desde A Menina e o Porquinho.
A tiração com a cara do público é tamanha que Dean DeBlois, co-diretor e roteirista da aventura original de Soluço e Banguela, retorna para o comando da nova versão, tornando-se, adivinhe só, o primeiro cineasta a transpor sua criação animada para o formato de CGI entre humanos.
O resultado, como o estúdio ponderou desde os estágios iniciais do projeto, é ótimo: afinal, o roteiro é o mesmo da animação, alterando no máximo uma ou outra insígnia de fundo, e mantendo intacto o cerne do amadurecimento do guerreiro viking e seu improvável mas inseparável parceiro alado.

É melhor precaver do que remediar, então vamos ao resumo da ópera: o jovem Soluço (Mason Thames, de O Telefone Preto) é filho do chefe da ilha de Berk, mas decepciona o pai sempre que pode; não leva jeito na arte da espada e tampouco domina o manejo sobre as feras sobrenaturais que só aparecem para roubar comida e queimar habitações.
Soluço está na idade de se provar como lutador, e as aulas de Bocão (Nick Frost) reúnem o garoto com uma porção de outros adolescentes nas portas da puberdade. Mas não são apenas espinhas e o contato com o gênero oposto que desafiam a garotada; eles devem aprender tudo e mais um pouco sobre os dragões.
Astrid (Nico Parker, de The Last of Us) leva jeito e nem sua quando se joga no campo de treino. Para tal, ela despreza a invalidez do protagonista e demora a entender como ele, tão imaturo, poderia estar se saindo melhor que o previsto nas provas e lições. A resposta está escondida na floresta, onde Soluço sem querer capturou um Fúria da Noite e, aprendendo ao lado da misteriosa espécie, forma um laço que beneficia ambas partes.

DeBlois segue quadro a quadro as batidas e interações da animação de 2010, um filme de fantasia envelopado na melhor das narrativas de crescimento e evolução. Para a versão de 2025, o time todo retorna: a trilha de John Powell continua majestosa e onírica, embalando os vôos, os embates e a liberdade que os personagens sentem quando, por fim, entendem que os dragões não são ameaça alguma.
Bem, com exceção da enorme fera que habita as profundezas do oceano. A personificação da morte e da desolação é admirada pelo roteiro como uma releitura de Davi versus Golias. Ou, para manter o tema, de Vhagar versus Lucerys. Aqui, o final é mais simpático ao pequeno desafiador, enquanto o gigantismo do inimigo só serve de desvantagem.

Abraçando o caricato traço e o jogo de proporções do desenho, o filme se atém ao “realismo” sem deixar certo humor de lado. Na prática, os figurinos enormes criam formas e relevos no elenco, como o casaco de Stoico (papel reprisado por Gerard Butler), que transforma o líder numa montanha sombreada.
Sucesso de bilheteria, já que o público anseia pelos enlatados de produtos que eles conhecem e amam, sem a necessidade de provar qualquer sabor distinto ou se aventurar por caminhos ainda inexplorados, o filme teve sua sequência confirmada antes mesmo de chegar aos cinemas. E com data: em 2027, Soluço continuará amadurecendo e, já que estamos aqui, por que não trazer Cate Blanchett em carne, osso e cercada por dragões?
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