Como Treinar o seu Dragão conquista pela memória

Tudo é harmonioso e lindo de encarar no live-action que replica a animação de 2012

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O fetiche mercadológico pelas refilmagens é a engrenagem que melhor move a geringonça que se tornou Hollywood, e Como Treinar o seu Dragão chega quebrando o teto de vidro da DreamWorks. É o primeiro live-action do estúdio de animação e também o primeiro filme que não é propriedade da Disney transformado em carne e osso desde A Menina e o Porquinho.

A tiração com a cara do público é tamanha que Dean DeBlois, co-diretor e roteirista da aventura original de Soluço e Banguela, retorna para o comando da nova versão, tornando-se, adivinhe só, o primeiro cineasta a transpor sua criação animada para o formato de CGI entre humanos.

O resultado, como o estúdio ponderou desde os estágios iniciais do projeto, é ótimo: afinal, o roteiro é o mesmo da animação, alterando no máximo uma ou outra insígnia de fundo, e mantendo intacto o cerne do amadurecimento do guerreiro viking e seu improvável mas inseparável parceiro alado.

Como Treinar o seu Dragão chegou aos cinemas junto do live-action de Lilo e Stitch, animação co-dirigida por Dean DeBlois em 2003 (Foto: DreamWorks)

É melhor precaver do que remediar, então vamos ao resumo da ópera: o jovem Soluço (Mason Thames, de O Telefone Preto) é filho do chefe da ilha de Berk, mas decepciona o pai sempre que pode; não leva jeito na arte da espada e tampouco domina o manejo sobre as feras sobrenaturais que só aparecem para roubar comida e queimar habitações.

Soluço está na idade de se provar como lutador, e as aulas de Bocão (Nick Frost) reúnem o garoto com uma porção de outros adolescentes nas portas da puberdade. Mas não são apenas espinhas e o contato com o gênero oposto que desafiam a garotada; eles devem aprender tudo e mais um pouco sobre os dragões.

Astrid (Nico Parker, de The Last of Us) leva jeito e nem sua quando se joga no campo de treino. Para tal, ela despreza a invalidez do protagonista e demora a entender como ele, tão imaturo, poderia estar se saindo melhor que o previsto nas provas e lições. A resposta está escondida na floresta, onde Soluço sem querer capturou um Fúria da Noite e, aprendendo ao lado da misteriosa espécie, forma um laço que beneficia ambas partes.

Berk é bem mais multirracial nesta versão, com uma cena rápida explicando que muitos moradores têm ancestrais de várias partes do mundo — no filme original, os berkianos eram exclusivamente nórdicos (Foto: DreamWorks)

DeBlois segue quadro a quadro as batidas e interações da animação de 2010, um filme de fantasia envelopado na melhor das narrativas de crescimento e evolução. Para a versão de 2025, o time todo retorna: a trilha de John Powell continua majestosa e onírica, embalando os vôos, os embates e a liberdade que os personagens sentem quando, por fim, entendem que os dragões não são ameaça alguma.

Bem, com exceção da enorme fera que habita as profundezas do oceano. A personificação da morte e da desolação é admirada pelo roteiro como uma releitura de Davi versus Golias. Ou, para manter o tema, de Vhagar versus Lucerys. Aqui, o final é mais simpático ao pequeno desafiador, enquanto o gigantismo do inimigo só serve de desvantagem.

O filme foi dedicado à mãe de Gerard Butler, que faleceu antes do encerramento da produção (Foto: DreamWorks)

Abraçando o caricato traço e o jogo de proporções do desenho, o filme se atém ao “realismo” sem deixar certo humor de lado. Na prática, os figurinos enormes criam formas e relevos no elenco, como o casaco de Stoico (papel reprisado por Gerard Butler), que transforma o líder numa montanha sombreada.

Sucesso de bilheteria, já que o público anseia pelos enlatados de produtos que eles conhecem e amam, sem a necessidade de provar qualquer sabor distinto ou se aventurar por caminhos ainda inexplorados, o filme teve sua sequência confirmada antes mesmo de chegar aos cinemas. E com data: em 2027, Soluço continuará amadurecendo e, já que estamos aqui, por que não trazer Cate Blanchett em carne, osso e cercada por dragões? 

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