M3GAN 2.0 sofre com a obsolescência programada dos robôs

Boneca assassina retorna em filme mal planejado – mas cheio dos ingredientes certos em doses incorretas

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Era questão de tempo para que M3GAN, a robô-assassina com rosto de boneca e dancinhas hilárias, assumisse seu posto no panteão queer de ícones do horror moderno. Portanto, o segundo filme da personagem deveria mudar seu status de vilã para, no máximo, uma anti-heroína com benevolência, mesmo que mínima. 

Repete-se o time do sucesso de 2022, que tomou as redes sociais de supetão e colocou a boneca como sinônimo de marketing orgânico: de números musicais em Paradas do Orgulho até uma aparição marcante nos palcos de Drag Race, M3GAN chegou para ficar. E então veio o segundo longa.

Gerard Johnstone retorna à direção, com roteiro assinado por ele ao lado de Akela Cooper, e elenco de apoio formado por Brian Jordan Alvarez e Jen Van Epps (Foto: Universal Pictures)

Lançado no verão americano, a aposta arriscada da Blumhouse caiu por terra quando a audiência, ávida por uma reprise da aura caótica da protagonista, assistiu a um filme de ação com requintes do horror cibernético de outrora. Mais no campo do Exterminador do Futuro do que no de Chucky, a versão atualizada de M3GAN desafiou as expectativas do público.

O resultado é parcialmente bem realizado, com todos os elementos originais em modo avantajado, como a dancinha antes de trucidar suas vítimas e a cantoria de um sucesso pop fora de contexto que gera aquela risada involuntária. O elenco humano continua uma evolução de onde pararam antes, com Gemma (Allison Williams) enxergando sua criação como filha e parceira.

M3GAN quer proteger Cady, custe o preço que for necessário (Foto: Universal Pictures)

A sobrinha da inventora, papel de Violet McGraw, entende que nem a mais forte babá do mundo poderá protegê-la se ela mesma não se esforçar. M3GAN, na voz de Jenna Davis e na corporalidade de Amie Donald, troca de roupa, ganha peruca matadora e até enfrenta uma nêmesis que espelha a própria criação em laboratório.

Amelia (Ivanna Sakhno), a grande vilã do segundo filme, começa interessante e se esvai em movimentos pouco inspirados do roteiro, chegando ao terceiro ato como sombra da ameaça que já desempenhou. Sutil nos mínimos detalhes, o texto coloca dois ricaços com complexo de Deus do lado de lá do embate ideológico e ético. Se Jemaine Clement sai por cima com seu putrefato tech lord, Aristotle Athari escorrega nos clichês que as atualidades tornaram palpáveis para quem vive conectado.

Amelia até tenta, mas não é páreo para a versatilidade da anti-heroína (Foto: Universal Pictures)

Embora audacioso, M3GAN 2.0 calculou mal as chances de repetir o furacão de humor e terror que colocou a boneca no mapa. Um lançamento à moda do original, no fantasmagórico e comercialmente livre mês de janeiro, eliminaria metade das preocupações do produtor Jason Blum, que parece tentado a colocar a personagem de volta na caixa e não abrir o lacre tão cedo. 

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