Com o trabalho de Nathan Fielder, a conclusão é simples: espere o inesperado. Três anos depois de recriar o ambiente familiar para entender a complexidade de criar um filho, o comediante volta sua atenção para algo totalmente distinto, o perigo do tráfego aéreo.
O Ensaio, portanto, deixa de lado a gênese da família nuclear e aposta numa conversa franca e ampla sobre o que leva um avião a cair. Fielder encontra a resposta sem muita dificuldade, já que a falta de comunicação entre piloto e copiloto é evidente para qualquer um que leia os manuais e relatórios e, mais tarde, assista as interações reais no aeroporto.

Usando o orçamento da HBO e seu prestígio entre os criadores de arte original num ecossistema feito à moda de sequências e derivados, Nathan começa a segunda temporada de O Ensaio com um bar, uma cabine de comando da aeronave e a certeza que seu Método Fielder pode dar frutos nesse cenário adverso.
Menos presa ao conceito original do que a temporada 1, os episódios de 2025 variam a gama de Ensaios e de caminhos. Nathan se afeiçoa pelos objetos de estudo, e faz de tudo para que sua tese seja provada e eficaz. Para tal, até um reality musical de calouros foi criado – e depois, denunciado.

O humor sem sentido de Fielder, que passa por caminhos de ironia e o abrupto toque seco de sua comédia, é combustível para personagens reais que se encaixam perfeitamente ao panteão do criador. Veja, por exemplo, a atriz que tem sonhos eróticos com Albert Einstein e é fácil de entender o magnetismo que Nathan emana de sua persona.
Ele é como um ímã de malucos e desvairados, e olha para eles com a autonomia e a seriedade que lhes é de direito. Os pilotos são anti sociais ou sociais demais; são desbocados ou tímidos ao extremo. Não importa a receita, com a ideia de Nathan sobre expressão e teatro sendo o fio-guia da série.

Depois que a Academia de TV ignorou a midiática e estranha temporada inicial de O Ensaio, foi surpreendente constatar as 4 indicações que a segunda conseguiu. Duas em Montagem e mais duas em Direção e Roteiro, feito raríssimo considerando que a série não foi lembrada na lista de Melhor Comédia.
O escolhido para representar o time de roteiristas (Nathan, Carrie Kemper, Adam Locke-Norton e Eric Notarnicola) e Fielder como diretor é Pilot’s Code, um exercício metalinguístico em que Nathan recria a vida do piloto Sully Sullenberger até os mínimos detalhes, como na construção de um set gigantesco, presença de fantoches que representam os pais e até uma longa sequência de amamentação.

O Ensaio surpreende a cada virada de cena, cada narração que ata a ideia anterior à próxima e, de modo primoroso, o faz sem cair no choque pelo choque. Até clones de cachorros são centrais entre os seis episódios, numa mímica para o comportamento humano que revela como a mente por trás do projeto e do experimento está interessada em enxergar o que faz dos humanos seres tão complexos e multifacetados.
No fim, as risadas são resultado das esdrúxulas situações nada corriqueiras ou comuns, mas não se limitam a tornar vexatória a ação de ensaiar, tentar e fracassar. Para além de todas as esquisitices e as loucuras, O Ensaio continua firme e forte em sua defesa da ação de escuta.
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