Paradise: Sterling K. Brown enfrenta o fim do mundo em sci-fi culposo

Com 4 indicações ao Emmy 2025, série do criador de This Is Us mantém veia sentimental mas foge do melodrama

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O presidente dos Estados Unidos está morto, e encontrar o culpado não será simples. Afinal, em Paradise, a cidade é pacífica, desarmada e com vigilância ininterrupta; elementos de fácil controle, considerando que o mundo acabou e as últimas pessoas na Terra vivem dentro de uma montanha.

Criada por Dan Fogelman, de This Is Us, o drama indicado a 4 prêmios no Emmy 2025 é centrado no agente Xavier Collins (Sterling K. Brown), braço-direito da segurança do POTUS, interpretado por James Marsden. Quando o político amanhece com um buraco na cabeça e as câmeras foram misteriosamente desligadas, cabe ao protagonista provar sua inocência e desferir a justiça ao culpado.

Sterling K. Brown alcança sua 11ª indicação ao Emmy; ele venceu por American Crime Story, This Is Us e Lincoln: Divided We Stand, e conquistou menções por Brooklyn Nine-Nine, The Marvelous Mrs. Maisel e Invencível (Foto: Disney+)

Em uma relação antes amistosa com o chefe, Xavier cultiva ressentimento por uma decisão tomada no dia do apocalipse, quando sua esposa Teri (Enuka Okuma) não embarcou no avião e ficou para trás, em meio ao tsunami e as ogivas nucleares. Cal Bradford, ao contrário do que seu pai planejou, é um líder omisso e desinteressado.

No trabalho sutil e complexo de Marsden, o presidente ganha fibra e mostra facetas de fragilidade e medo; sempre em flashbacks, as cenas do ator são capturadas com amargura e certo senso de arrependimento. Com o filho Jeremy (Charlie Evans), a relação é mais distante do que o desejado; e com o pai Kane (Gerald McRaney, o Dr. K de This Is Us), as memórias se embaralham pela demência do idoso.

Depois da indicação por Jury Duty, James Marsden volta ao Emmy, desta vez num papel que desafia na aparência aparentemente jocosa e intolerante do chefe de estado americano (Foto: Disney+)

Fora do gabinete principal, quem dá as cartas e assina os cheques é Samantha Redmond, codinome Sinatra, no papel que coloca Julianne Nicholson em território frágil entre a monstruosidade e a determinação. Mãe de uma filha saudável e um filho enfermo, ela usou o dinheiro ganho na venda da startup de tecnologia para pesquisar, persuadir e dar fundos para a iniciativa que escavou a montanha e, lá dentro, montou um mundo perfeito.

Ou Paraíso, por assim dizer. Acontece que as coisas são menos claras que aparentam. Fogelman cria um labirinto de reviravoltas e ganchos ao longo de oito episódios, denunciando os interesses políticos que se dobram aos bilionários. Tão atual que soa satírico, o trabalho dramático de Paradise dosa com iguais intenções o presente cerúleo da realidade fabricada com o passado solar de um mundo destinado a acabar.

Após a vitória por Mare of Easttown, Julianne Nicholson volta ao Emmy em dose dupla, concorrendo também pelo papel da Dance Mom em Hacks (Foto: Disney+)

Ainda brincando com a estrutura de colagens que emparelham emoções e acontecimentos, mas sem os saltos temporais de This Is Us, Fogelman escreve Xavier como alguém íntegro e comportado, até que as peças caiam de maneira suspeita. Em casa, os filhos Presley (Aliyah Mastin) e James (Percy Daggs IV) servem de lembrete da esperança e das promessas da esposa.

No trabalho, sua relação fraternal com o agente Bill Pace (Jon Beavers) proporciona quebras de habitual tensão que acompanha uma série sobre o fim do mundo – e sobre como a humanidade necessita do teatro comportamental para seguir vivendo. A psicóloga Gabriela Torabi (Sarah Shahi), uma das arquitetas da cidade, busca entender as motivações dos dois lados, tanto a busca de Xavier pelas respostas quanto a insistência de Sinatra em esconder qualquer evidência que contrarie seu Éden. 

Paradise foi filmada no mesmo estúdio e set de Gilmore Girls; na veia sci-fi, a série mistura a energia de Under the Dome com Fallout e até um pouco de Chernobyl (Foto: Disney+)

O fantástico episódio 7, The Day, rebobina a fita para o dia da perdição, e serve de submissão dos dois atores para o Emmy 2025. Nicholson, que apareceu de surpresa na lista de atriz coadjuvante, escolheu o sentimental Sinatra, que visita a origem da bilionária e sua razão de ser. Para além dos nomes reconhecidos pela Academia, a série de Fogelman não economiza no drama que as performances dos demais agentes e civis demandam.

Jane (Nicole Brydon Bloom) parece indefesa, mas é a maior arma de Sinatra, ao passo que Robinson (Krys Marshall), embora enamorada pelo presidente, permanece fiel aos princípios que a levaram ao bunker para começo de conversa. Glynn Turman dá o ar de graça em lembranças de Xavier com o pai doente, em outra adição certeira de Paradise, que tem cara de patinho feio na categoria de Drama no Emmy 2025, mas faz valer com presença de sobra. 

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