No Brasil, o negócio é diferente: e as redes sociais foram surpreendidas com stories de Grag Queen no Werk Room e desfilando na Runway enquanto a segunda temporada era gravada. Algo inédito até então, numa franquia que costuma empacotar os episódios um ano antes da exibição e fingir que os spoilers são mentirosos até que as eliminações aconteçam.
Gravada em Portugal, ao contrário da trinca da Paramount que usou a Colômbia de sede no passado, Drag Race Brasil trouxe a pitada europeia da produção do reality em uma estreia promissora e que gera entusiasmo. A promo, temática das Aves do Paraíso, elevou o conceito e apresentou as dez rainhas.

Da temporada original, algumas partes ficaram intocadas: Grag comanda o programa, guia e orienta as filhas e depois delibera com os nomes fixos da bancada, Dudu Bertholini, com todo seu conhecimento fashion e trocadilhos engraçados, e Bruna Braga, que mantém a essência da season 1 e até cutuca alguns dos críticos ferrenhos de sua personalidade e vocabulário.
A premiere, intitulada Os pássaros do paraíso alçam voo, ganha um Mini-Desafio estilo Quiz sobre RuPaul’s Drag Race e suas diversas versões ao redor do mundo, com foco nas rainhas brasileiras que pipocaram em outras Corridas. Uma a uma, as queens respondiam – e até os erros foram recompensados, com uma pergunta aparecendo por engano na tela.

O Desafio principal era coreografar um número para o lançamento Boogie Brasil, carro-chefe sonoro da temporada e single recém-nascido de Grag Queen. O resultado ficou abaixo do esperado: a bagunça rítmica e de movimentos tornou a tarefa quase inútil, já que era difícil enxergar e muito menos julgar uma concorrente pela performance na tarefa.
Blogueirinha inaugurou o hall de jurados convidados, em sua homenagem à Chappell Roan e Lorelay Fox, rendendo os comentários sarcásticos e hilários que fazem dela uma das figuras mais engraçadas do país. A categoria Tempero Brasileiro tornou confusa a tarefa de entender que era uma variante das Minhas Raízes, e não apenas dos alimentos do país.

Agora, uma olhada individual nas competidoras do Drag Race Brasil 2, de suas entradas a passarelas, e o potencial para vencer a Corrida e arrematar a Coroa, o cetro e o cheque de 150 mil reais:

Paola Hoffmann Van Cartier: tem 36 anos, é natural de Vila Velha – ES mas fez carreira ao redor do globo, e é da família de Vanessa Van Cartier e Envy Peru, ganhadoras do Drag Race Holland. Entrou apostando na realeza, com jornal anunciando que a moqueca é capixaba, com pose e pinta de campeã. Classuda, Paola acabou ficando nas Piores da Semana, com um look que remete ao prato típico (desenhado por Rubi Ocean). Quando foi salva, repetiu a já manjada promessa: vocês nunca mais me verão aqui. Veremos.

Poseidon Drag: tem 30 anos, é de Recife – PE e receitou o melhor remédio para um doido, isso é, outro na porta. Com camisa de força amarrada de verdade, a queen demonstrou o lado cômico e caricato de sua persona. No Desafio, esteve entre as Salvas, e desfilou uma roupa simples no conceito, mas com uma revelação nas costas. Nada melhor que celebrar o frevo com um pequeno guarda-chuva na bunda, certo?

Chanel: com 21 anos e natural de Niterói – RJ, ela deu pra passar na prova e pra entrar no programa! O look é a versão drag de um uniforme escolar, para jogar na cara de todas o status de mais jovem do elenco. Primeira travesti a competir em Drag Race Brasil, Chanel é a princesinha fashion, sendo um dos destaques do Desafio pela dança e pelo visual afrofuturista do Museu de Arte Contemporânea com misturas de Steven Universo. De cara, se destacou do grupo.

Ruby Nox: é o que carai? Natural de Carnaíba, PE, a maior drag em linha reta do Brasil tem 31 anos e um broche para chamar de seu. Dona de um confessionário que hipnotiza e com presença de palco de nascença, a queen chegou toda trabalhada no vermelho, e depois deixou os queixos caídos com uma versão queer de Lampião. Com atenção aos detalhes, construção nada simples e muito jogo de cintura, o esforço colocou-a no Top 2, e o Lip Sync ao som de Funk Rave da Anitta sacramentou a primeira vitória da segunda temporada. Vamos ficar de olho!

Adora Black: é cedo proclamar essa queen como dona da melhor maquiagem da temporada? Eu não ligo, pois é difícil achar alguém que não adora black. Com 26 anos nas costas e vindo de Cidade Oriental, GO, a queen trabalhou a persona sexy e dominadora com um casaco fabuloso de oncinha, e complementou os visuais com o look do confessionário, o mais embonecado do elenco. Na runway, as cores quentes da roupa ficaram ótimas em contraste ao verde das folhas nos braços, e se der sede, é só abrir a torneira e deixar pingar.

Mercedez Vulcão: as cortinas do teatro se abrem e surge ela, que tem 36 anos, vem de Vinhedo-SP e decidiu vestir a própria ilusão do palco. Com a cara pintada de branco, o terror de Michelle Visage, a queen aposta na pegada old school enquanto homenageia os ícones que vieram antes dela. Na passarela, o creme do vestido que se refere ao êxodo rural foi engolido pelas luzes, tornando a primeira impressão de Mercedez mais tímida que o desejado.

Bhelchi: a outra queen paulista da temporada vem de Pirituba e, aos 37 anos, é uma das veteranas do elenco. A entrada apostou na simplicidade, ao passo que no Desafio, a diva foi alertada sobre a falta de presença. Pior ainda: ela é professora de dança, e reclamou para Grag sobre a falta de tempo ou ensaio; coisa que apresentadora nenhuma gosta de ouvir. O twist do episódio salvou Bhelchi do Lip Sync, já que o look rodoviário atraiu mais amor na internet do que no palco.

Mellody Queen: eles podem não estar aceitando ela em nível mundial, mas é óbvio que a mineira de 31 anos tornou-se querida dos fãs. O léxico drag rola solto, com bordões e frases de efeito, além de um visual dourado para lá de refinado. A vitória no Mini-Desafio do Quiz das Sabichonas catapultou a confiança da drag queen; no Desafio, foi Salva, apesar de uma roupa cartunesca e linda em referência a um prato de BH. Mellody é a primeira mulher trans a participar do programa brasileiro, e fez bonito ao falar sobre os seios, sua identidade feminina e a liberdade e felicidade de estar neste lugar neste ponto da carreira.

Melina Blley: tem 30 anos, veio de Sapé-PB e é poderosa. A personalidade conquista logo de cara, e o look que remete à seca, com direito a casa de barro na cabeça, colocou-a nas Melhores da Semana. Pena que a queen não decorou Funk Rave e foi sabotada pelo próprio guarda-roupa, perdendo o Lip Sync para Ruby. De resto, uma semana ótima para a única queen gorda da season.

Desirée Beck: a perua de Irecê, Bahia tem 34 anos e uma legião de fãs em total histeria por sua participação em Drag Race. Ela foi finalista do Caravana das Drags e desde então provou-se figura marcada na cena queer brasileira, com reacts, resenhas e muito kikiki. A entrada, também no dourado líquido, mostrou o lado caricato da diva. No Desafio de Dança, uma de suas fraquezas declaradas, Desirée ficou feliz ao ser Salva. Na passarela, desfilou apimentada, com o tecido verde servindo de pano de fundo para o amarelo, o vermelho e o laranja.
Quiz das Sabichonas: as Cadelas Caramelas e as Antas batalharam pela vitória. Nas respostas, tivemos a supermodelo Adriana Lima, convidada do Global All Stars; a entrada bonita de Shannon Skarllet; o bordão de Wanessa Wolf; um ditado de Miranda Lebrão; a brasileira finalista do reality italiano; o hit Party Everyday de Grag Queen; Rita Baga, no momento que o programa errou na edição; e por fim, Vanity Vain, a queen que eliminou a brasileira do Global All Stars.

O que funcionou: ótimas mudanças no cenário e na qualidade de gravação e montagem, além da sinergia das queens ter rendido momentos de gritaria e emoção (a cena com Mellody falando dos peitos nasceu icônica). O main stage é deslumbrante, à altura do que o Brasil merece. O prêmio de 150 mil reais, ainda bem, se manteve, mas bem que poderia aumentar e reconhecer o orçamento e o preço de ser drag aqui.
O que poderia melhorar: alguns takes de Grag falando com as queens deixam a host um tanto perdida na imagem, ou com muito zoom ou com zoom de menos; são pequenas alterações que chegam junto da prática. Além disso, o momento sem eliminação já passou da hora de ser entendido como certo.
À essa altura, é mais surpreendente alguém ouvir o Sashay numa premiere, e aqui, não contar para as queens sobre a Dublagem pela Vitória transformou Funk Rave em desafio de paciência e equilíbrio. Era só deixar Ruby e Melina trocarem-se para algo solto e Anitta receberia justiça nos palcos de Drag Race. Não foi dessa vez, e Marcia Marcia Marcia continua com o título de melhor uso de canção da Girl from Rio.
Do ponto de vista narrativo, outra pequena derrapada da edição foi o drama do ensaio, que Bhelchi citou no palco, já perto do fim, e gerou algumas lágrimas de Mellody; deveria ser ponto de tensão já nos ensaios, antes da passarela, e talvez rendesse até mais. As queens sabem o que fazer para agradar as câmeras, é só deixar o caminho livre.
O episódio 2 será de Costura, com as queens construindo looks de papel e com a presença da jurada convidada Fontana – e então conheceremos a Porkchop brasileira, que se juntará ao grupo que Diva More protagoniza sozinha.
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