Na noite de abertura do retorno de Oliver Putnam (Martin Short) aos palcos da Broadway, seu protagonista cai morto no palco. Envenenado, talvez, e com certeza alvo dos detetives informais que, à essa altura, já resolveram alguns casos policiais. E se Charles Haden-Savage (Steve Martin) era companheiro de peça do falecido, e tinha um histórico de animosidade com ele, é Mabel Mora (Selena Gomez) o peixe fora d’água do momento. As cortinas abrem, e Only Murders in the Building dá início a terceira temporada.
O plano é o de sempre: alguém morre, o trio de podcasters investiga. Eles erram um bocado, acertam um tantinho e são, por azar ou infortúnio, acometidos por outro crime minutos antes das coisas se resolverem. Criação de Steve Martin e John Hoffman, a comédia do Hulu subverte os clichês da terceira idade e injeta no roteiro uma fibra moral e histérica que une dois vôzinhos e uma jovem adulta em posições de paridade e companheirismo.
A química que borbulha entre Martin, Short e Gomez atravessa a origem narrativa e se entrelaça aos momentos compartilhados em tela. Aqui, Murders começa a inverter certas proposições, em especial quando desloca Mabel do ambiente cênico e deixa os veteranos no foco fictício da peça. Batizada de Death Rattle, a história é um desastre de proporções calamitosas.
E nem a morte de Ben (Paul Rudd), astro dos anos noventa que acumula mimos e a fama de fanfarrão, dá conta de melhorar o cenário. “A peça não canta”, define a crítica cultural Maxine (Noma Dumezweni), responsável por realinhar as órbitas de Oliver e fazer com que ele continue a toada nostálgica do seriado e insira o elemento musical na versão remasterizada da história. Entra em cena a comedida e envergonhada Loretta (Meryl Streep), atriz de muita bagagem e pouco reconhecimento, que se incorpora ao ecossistema novaiorquino sem pestanejar.
O tema maternal é fio condutor de todos os dramas da terceira temporada, que localiza questões de amadurecimento e saudades desde a origem da peça teatral (uma mãe morreu, e os três bebês são investigados), até o crime do mundo real. Paul Rudd invoca toda a canastrice e a histeria que lhe foram antônimos na carreira, e aqui desemboca seus mimimis em ataques de frenesi e muita ignorância. Nem seu irmão e agente Dickie (Jeremy Shamos) sai ileso das batalhas de ego.
Produto de sua índole megalomaníaca norte-americana, Only Murders in the Building se diverte com os estereótipos da Granda Maçã, distanciando do edifício Arconia, palco dos assassinatos anteriores, e alocando-se nos bastidores de um luxuoso e esquisito teatro. Todo o elenco e equipe são investigados, com episódios focados em cada um dos envolvidos. Neles, brilham o cinismo de Ashley Park, a ansiedade de Michael Cyril Creighton, a sensualidade de Jesse Williams e a estrela de Matthew Broderick, interpretando ele mesmo.
No passeio pelo irreal e pelo extravagante, a comédia dança conforme a coreografia que ela mesmo definiu e triunfou. Com viradas chocantes, confissões à flor da pele, muito vai e vem entre as coxias e o palco e a sempre magnética presença de Da’Vine Joy Randolph como a policial sem paciência, Only Murders in the Building encontra força vital na familiaridade e no conforto. E a quarta temporada, que convoca Melissa McCarthy, Molly Shannon, Eugene Levy e outros grandes bambambans para um show centrado em Jane Lynch, chega em 28 de Agosto, bem a tempo da season 3 tentar uma vitória ou outra no Emmy.
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