A Casa do Dragão – 2×01 | Por favor, o cachorro não!

A Son for a Son falha na tentativa de igualar o jogo, mas prepara o tabuleiro em brasas de Westeros

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Sentindo os ventos do inverno gelarem a espinha, o príncipe Jacaerys Velaryon (Harry Collett) contempla as terras Além-da-Muralha. Ao lado do igualmente jovem e atraente lorde Cregan Stark (Tom Taylor), que jura lealdade à Rainha Preta, ele recebe a notícia do corvo que há pouco passou por Winterfell e pousou na geleira. Do lugar onde a montaria da Boa Rainha Alysanne se recusou a atravessar, descobre que Lucerys está morto, e a guerra começou. É desta forma que começa, também, a segunda temporada de A Casa do Dragão.

A decisão de reapresentar essa Westeros em terrenos familiares pode não passar de fanservice, como destacou o criador e roteirista Ryan Condal, mas situar Jace ao Norte é a maneira perfeita de voltar ao caótico cenário Targaryen. A audiência tem duplo-blefe: sabe da real ameaça das Terras do Sempre Inverno, e, mais imediato e importante ainda, sabe do acidente fatal nos céus de Ponta Tempestade.

A série ganha nova abertura, com o mesmo tema embalando as imagens, formando em espécie de bordado momentos derradeiros da história do clã, da queda de Valíria até a morte de Lucerys (Foto: HBO)

A morte de Lucerys (Elliot Grihault) é sentida com toda a dor do mundo por Rhaenyra (Emma D’Arcy), que passa parte do capítulo sumida, voando em busca de restos mortais que coloquem certa paz e tranquilidade no coração em luto. No comando de Pedra do Dragão, o sempre impaciente Daemon (Matt Smith) quer partir para o abate, não importa como. Rhaenys (Eve Best), a Rainha que Nunca Foi, corrige a órbita do primo de antemão e sem pestanejar.

“Eu iria se você fosse rei”, encerra a conversa. O pedido, óbvio, era de unir Caraxes e Meleys, a montaria de Rhaenys, para voar em direção à capital e destruir a puta velha, digo, Vhagar, de surpresa. Daemon quer agir de imediato e sem consultar a soberana, e tampouco reconhece maneiras de fazê-lo. No castelo litorâneo dos Targaryen, os corredores estão em estado espectral. Ninguém ousa varrer a sujeira sem o aval de Rhaenyra.

Longe da esposa, Corlys arruma a bagunça marítima, cercando o Gargalo e lamentando a morte do neto (Foto: HBO)

Sem falar nada até metade da primeira hora da temporada dois, D’Arcy entrega mais uma soberba aula de classe e decoro, exprimindo o efeito que as feridas cáusticas inflamam no interno e no externo de si. Quando recebeu a notícia da coroação usurpadora de Aegon, sofreu um aborto espontâneo. E, agora, perde o filho em um ato de crueldade e selvageria. Quando finalmente encontra o pedaço de asa com restos do manto de Lucerys, o choro não vem só da mãe, já que Syrax se une ao pranto desmedido. As duas perderam seus meninos. 

Rhaenyra quer Aemond Targaryen (Ewan Mitchell), e Daemon, após o reencontro silencioso e compassivo, entende de primeira o que deve ser feito. Ele coloca o capuz do crime, interroga uma reclusa Mysaria (Sonoya Mizuno) e parte para a Capital. Mais disso, daqui a pouco. Pois, de forma paralela, a morte de Lucerys é recebida com menos choro, mas iguais doses de tensão e temor.

As mudanças do livro para a série se justificam na adaptação, mas fica claro a predileção pelo simples na construção narrativa de Condal; se não conhecemos o pequeno herdeiro, não sentimos sua perda como fizemos com Lucerys (Foto: HBO)

Alicent (Olivia Cooke) ainda procura o meio-termo, mas Otto Hightower (Rhys Ifans) alinha sua visão à de Aemond, nada arrependido do feito. O Rei Aegon II (Tom Glynn-Carney), por si só, demonstra o despreparo e a total falta de controle que seu governo promete oferecer. No alto do Trono de Ferro, recebe a plebe e concorda com todos os termos e condições. Seu avô precisa, de forma lenta, subir os degraus e negar tudo. Um monarca não pode ceder aos caprichos dos pobres, mesmo que um deles provavelmente se tornará um cavaleiro de dragão, mas estou me adiantando demais.

Um Filho por Um Filho reseta a narrativa e continua na premonição da guerra em estado de nascença. Nos corredores do castelo, Alicent se entrega aos braços de Sir Criston Cole (Fabien Frankel), encontrando nele o único resquício de humanidade e companheirismo. Sua família a isola, e a posição de Rainha-Mãe não torna fácil a convivência com homens linguarudos e prepotentes. E se os filhos homens não lhe servem de nada, a jovem Rainha Helaena (Phia Saban) está distante, em seu próprio mundo.

Expandindo a mitologia própria da época, House of the Dragon mostra em contraste o hangar dos dragões, onde os monstros alados dormem, se alimentam e pressentem o conflito (Foto: HBO)

Premonitória e aérea, a personagem é a grande protagonista do massacre que encerra o capítulo. Daemon dá dinheiro e ordens a dois mercenários: matem Aemond. E se não o encontrarmos?, pergunta o caça-ratos, e o diretor Alan Taylor corta para a próxima cena. E eles não o acham mesmo. A solução é matar o filho de cabelos platinados mais próximo. O escolhido, à contragosto da parcela da audiência que busca fidelidade ao livro, é Jaehaerys, herdeiro de Aegon.

Sangue e Queijo, sem nome na adaptação televisiva, fazem Helaena revelar quem é o menino, já que os berços e os penteados dos gêmeos não formam distinção suficiente. Ela aponta, eles serram o pescoço. Ela corre com a filha nos braços, encontra Alicent no topo do êxtase e encerra A Son for a Son: “eles mataram o menino”. Agora, enfim, a guerra começou. Com baixas nos dois lados, A Casa do Dragão inicia o capítulo sangrento na dinastia Targaryen, onde irmão queima irmão, e criança nenhuma se safa das garras afiadas e dos dentes sedentos das feras.

Mark Stobbart, que viveu Queijo, esclareceu que cachorro nenhum foi chutado e eles são bons amigos! (Foto: HBO)

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