8ª temporada de Big Mouth é gozada, tocante e esperançosa

Os Monstros Hormonais se despedem de seus adolescentes tarados preferidos em temporada marcada pela evolução emocional

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As melhores histórias chegam ao fim de maneira natural e acolhedora, como o encerramento de Big Mouth deixa claro nos episódios que chegam na companhia do fim da puberdade e do iminente futuro. Os adolescentes estão no Ensino Médio, onde a escola torna-se, mais uma vez, campo de batalha para as diversas lutas internas.

A estreia, Homecumming, enriquece o papel dos Mosquitos da Ansiedade (Maria Bamford), que aqui são receptores do FOMO, o clássico sentimento que acomete pessoas de todas as faixas etárias, e em Big Mouth é também sinônimo de temor. Mais tarde, com os ânimos levemente acalmados, Cliques, Pricks, and Sonic’s Dick centra-se na emancipação de Nick (Nick Kroll) de uma amizade nada proveitosa ou enriquecedora.

Para a surpresa de todos, Nick cresce e atinge o início das transformações da puberdade, atraindo garotas e estourando espinhas (Foto: Netflix)

Estudando em outro colégio, o protagonista agora é melhor amigo de Andrew… Rubenfeld, dublado por Zach Woods. Sentindo a solidão, Andrew Glouberman (John Mulaney) não sabe como recuperar o baixinho e nem como navegar por essa fase desafiadora sem ele. Perto dali, Jessi (Jessi Klein) e Jay (Jason Mantzoukas) estão por aí cuidando de um bebê-melão, e a pobre Missy (Ayo Edebiri) reluta em ser educada pelos pais. Ninguém sai impune da adolescência.

Igualmente desafiado pelo vocabulário da vida queer, Matthew (Andrew Rannells) não sabe se é ativo ou passivo, e pede a ajuda de Lola (Nick Kroll), que por acaso é expert em pornografia gay. No fantástico Everyone Watches Porn, a dupla é sugada pela internet e visita uma ilha paradisíaca que ostenta os mais distintos “tipos” de homens que amam outros homens.

Apesar de bem amarrada, a temporada final de Big Mouth mostra pouco dos pais dos adolescentes (Foto: Netflix)

Lola, que no final da série tira uma espécie de carteira de motorista, revela o caráter amadurecido de sua jornada, entendendo que as outras pessoas podem ter sentimentos e cedendo à Jay uma muralha de proteção que acaba no renascimento do namoro entre eles, e também na guarda compartilhada do solitário cão Ludacris (Jordan Peele).

Natasha Lyonne embarca no elenco como a professora entusiasta da educação sexual, levando os alunos para dentro de corpos humanos para responder a pergunta: Why Do We Go Through Puberty?. Big Mouth ensina sem soar mesquinha ou enfadonha, e o faz com cinismo e coração puro.

Camden (Whitmer Thomas), Nate (Nathan Fillion) e Devin (June Diane Raphael) são alguns dos interesses românticos dos protagonistas na última temporada [Foto: Netflix]

As criaturas do passado voltam em peso: Gata da Depressão (Maria Bamford), Mago da Vergonha (David Thewlis), o fantasma de Duke Ellington (Jordan Peele) e até algumas figurinhas que protagonizaram a simpática série Recursos Humanos, cancelada cedo demais na grade da Netflix. Em Have Some Goddamn Compassion, Connie (Maya Rudolph) viaja ao oeste e busca pelo pescoço alguém que há muito se isolou e desistiu do mundo.

Holly Hunter é Coco, a Paquiderme da Compaixão. Bruta em forma mas um doce em personalidade, a personagem guia Jessi de volta ao caminho correto, em uma temporada que a garota chega a epifania dolorosas (Am I Smoking Too Much Weed?), para depois viver a melhor das virtudes adolescentes (Horny Talky Yes Please). 

Rick (Nick Kroll) decide se aposentar, Mona (Thandiwe Newton) aceita as esquisitices de Missy e Coco (Holly Hunter) volta do isolamento para exercitar a compaixão das pessoas [Foto: Netflix]

O penúltimo episódio quebra o formato narrativo e coloca Connie e Maurice (Nick Kroll) em contato direto a quem assiste, respondendo uma porção de perguntas enviadas pelos fãs. Tem de tudo: o que é o vaginismo, a possibilidade de engravidar sem penetração e a sempre dormente questão de “é possível chupar o próprio pênis?”. Andrew testa a prerrogativa e precisa da ajuda dos traços clássicos dos Looney Tunes para responder com exatidão.

Recusando a pegada sentimentalista de olhar para o amanhã e assegurar os personagens de seus futuros brilhantes e inexplorados, Big Mouth termina sua jornada de 8 anos com The Great Unknown, um reencontro com a escola de ensino fundamental que abrigou os personagens e agora, para a tristeza do Treinador Steve (Nick Kroll), será demolida. Entre memórias e decisões, a garotada aceita a inevitabilidade do que está por vir, caminhando em direção ao clarão alvo que os envolve, apagando os traços da animação até um simplório esboço. 

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