2ª temporada joga Pacificador no Multiverso da Lamúria

Terceiro projeto do novo Universo da DC caminha lenta e vagarosamente como ponte narrativa

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Pego no fogo cruzado da reestruturação do Universo DC pelas mãos de James Gunn e Peter Safran, o Pacificador e sua trupe nunca correram perigo de verdade. Projeto do coração do diretor serve de ponte entre Superman, lançado como carro-chefe da saga, e o futuro que mescla deuses e monstros em constante guerra. A segunda temporada ganha uma recapitulação que não só dá conta de situar o espectador, mas também limpa o paladar, com pequenas mudanças que harmonizam os planos vigentes. 

Nada de Liga da Justiça, já que por enquanto nem Batman o DCU tem; então é na porta da Gangue da Justiça que Chris Smith (John Cena) bate em busca de um emprego que valide sua posição de super-herói. Depois dos desastres de Corto Maltese e do assassinato de Rick Flag Jr. (Joel Kinnaman), o Pacificador sente que provou seu valor ao derrotar as Borboletas e subverter a tirania de Amanda Waller do poder da A.R.G.U.S.. Ledo engano, já que Guy Gardner (Nathan Fillion) e Mulher-Gavião (Isabela Merced) debocham dele sem piedade.

Com uma simples troca de heróis, James Gunn estabelece a continuidade de sua saga (Foto: HBO Max)

Gunn, que dirige apenas 3 dos 8 episódios, faz questão de ilustrar a depressão que Smith enfrenta na realidade em que vive. A saída, claro, é o Multiverso. Mas não na mesma chave que a Marvel acostumou-se a virar, em um festival de participações especiais que pouco ou nada agregam ao drama dos personagens. Na DC, o Pacificador atravessa o portal herdado do pai e chega a uma Terra onde sua família está completa, o irmão Keith (David Denman) não bateu as botas na infância e os cidadão endeusam o trio de heróis.

É, portanto, a inveja que motiva o protagonista a roubar o lugar de sua contraparte no outro mundo, assumindo ali a persona mais feliz, com um romance inacabado com Emília Harcourt (Jennifer Holland) e o prestígio do governo. Pena que, na terra original, o recém-empossado diretor Rick Flag Sr. (Frank Grillo) quer a cabeça do Pacificador, ainda buscando justiça pela morte do filho em O Esquadrão Suicida.

Temporada amarra pontas de Comandos das Criaturas, animação protagonizada por Flag Sr., e Superman, com a presença do vilão Lex Luthor, mais uma vez vivido por Nicholas Hoult (Foto: HBO Max)

Com cara de corrida sem linha de chegada aparente, a temporada puxa o freio de mão no desenrolar dos acontecimentos, trabalhando com paciência a grande revelação do sexto episódio. As pistas de que a Terra-2 poderia ser, quem sabe, a Terra-X dos quadrinhos, incendiaram a internet e chegaram ao ápice quando a Harcourt original revelou o lado egoísta e imaturo de Chris: um mural com o rosto de Adolf Hitler não chamou sua atenção para o reinado nazista que tomava parte ali.

Antes da virada que coloca Adebayo (Danielle Brooks) e Judomaster (Nhut Le) em perigo, Pacificador passeia pela nova vida da galera da 11ª Rua. Economos (Steve Agee) continua empregado na A.R.G.U.S., mas mantém a linha de apoio ligada com os amigos. Ads, por outro lado, terminou o relacionamento com a ex-noiva e sofre com os efeitos colaterais da denúncia contra a mãe, Amanda Waller.

O Vigilante curte a vida, mas destrata a bondosa mãe (Foto: HBO Max)

Harcourt está impedida de conseguir emprego, e passa as noites arrumando briga com os maiores brucutus em bares, buscando um motivo para seguir respirando. O Vigilante (Freddie Stroma) não se vê como vítima ou derrotado, continuando sua cruzada contra traficantes, cafetões e qualquer bandido que ameace a ordem natural das coisas. Sua amizade incondicional com o Pacificador é o que leva-o a ajudar na limpeza do corpo da variante de Smith.

O caso acontece enquanto Chris é anfitrião de uma orgia recheada de sensualidade e humor, para a qual Vigilante sente-se traído por não participar. Explorando o lado bssexual de Pacificador, a série contrapõe a tristeza com o êxtase, com Cena entregando momentos de ruptura emocional e a certeza de que, para ele, o mundo deixou de girar. A decisão de trocar de vida não é difícil nem estranha, é a única possível para alguém tão machucado. 

Há algo de profundamente perturbador na “realidade perfeita” que Smith quer chamar de sua (Foto: HBO Max)

Com episódios mais curtos, a temporada se liga aos acontecimentos de Comando das Criaturas, e até faz referência ao Esquadrão Suicida, com a presença tímida de Kinnaman, reprisando um Rick Flag Jr. diferente do comum. Seu pai, ao contrário, é brutal e faz de tudo para acabar com o Pacificador, recrutando agentes como Langston Fleury (Tim Meadows), Sasha Bordeaux (Sol Rodriguez) e o caçador de águias Red St. Wild (Michael Rooker). Desta pequena fissão, Eagly ganha protagonismo e poderes.

Ótimo ano para os fãs de pets, com Krypto e a águia de Pacificador provando-se vitais para a vitória de seus donos e parceiros. Há ainda o cuidado na expansão mitológica do restante do DCU, com a presença do planeta-prisão Salvação, no que promete encadear os acontecimentos de Man of Tomorrow. Gunn, apesar de deixar a direção aos comandos de Peter Sollett (Evil), Greg Mottola (Ninguém Quer) e Alethea Jones (Uma Mente Excepcional), mantém a veia de humor, cinismo e sarcasmo que sedimentou na temporada inicial; o roteiro, por outro lado, transparece as múltiplas funções do cineasta, sem tempo ou foco para o projeto da vez.

Eagly assume o papel de Águia Ancestral e anima para a futura aparição de outro herói com poderes animais… (Foto: HBO Max)

Full Nelson, a season finale, incorpora o amor de James Gunn pela banda Foxy Shazam e seu sucesso Oh Lord, trilha de abertura. Repare, também, como a coreografia dos créditos sugere símbolos e poses que depois se confirmam na Terra-X. E por falar nela, a decisão de encerrar a série, sem previsão de uma terceira temporada, longe do conflito nazista apenas mantém a sensação de inchaço que o projeto carrega.

Com a ponte estabelecida para os futuros filmes e séries da DC, Gunn abdica de uma catarse à altura da trupe de Chris Smith e, sem mais nem menos, cede às pressões de um universo compartilhado. Do balaio, Cena superou a carga dramática do passado e, aliado ao trabalho de Holland, rendeu calafrios e sorrisos na tão esperada união de afetos e propósitos da dupla. 

Apesar de ter sido escrita muito antes do segundo mandato de Donald Trump, a temporada conversa de maneira voraz com o cotidiano norte-americano (Foto: HBO Max)

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