2ª temporada de Gen V abdica de catarse palpável em prol do futuro da franquia

Ponte para o fim do reinado de Capitão Pátria, temporada abandona traços autorais e se joga na mitologia pregressa

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A rebeldia adolescente fica em pausa na 2ª temporada de Gen V, derivado de The Boys que recebe a ímpia função de dar seguimento aos dramas do programa original e preparar o terreno para a batalha final contra o Capitão Pátria. Para tal, a série perde muito do olhar atual e autoral de sua estreia, numa aventura guiada em suma pelos potenciais previstos no laboratório que gerou o vilão e Marie Moreau (Jaz Sinclair).

Rejeitando o posto de “a escolhida”, a heroína é posta à prova e precisa evoluir os dons de domínio do sangue. Sinclair fundamenta sua performance numa Marie com raiva, mas controlando cada gota do próprio potencial, custe o preço necessário. A relação com Jordan (papel dividido por Derek Luh e London Thor) afunda a cada decisão que coloque Marie mais alto no ranking de poderio, muitas vezes na corrente que Cipher (Hamish Linklater) propõe à força.

Embora a saída estética seja ótima para a equipe de efeitos e figurino, ninguém merece a peruca usada por Jordan Li no ano 2 (Foto: Prime Video)

O personagem, que chega como reitor da God U e se revela um vilão de marca maior e conquistas inalcançáveis, torna a segunda temporada de Gen V um bálsamo de sarcasmo e ironia. Os mistérios que cercam sua persona durona e cheia de lábia servem também de motor para o restante dos arcos dramáticos. Afinal, é ele o responsável pela prisão dos jovens em Elmira e, mais adiante, revelando-se igualmente como vital no nascimento de Marie.

É em Elvira que a série encontra o fim de Andre, um dos coadjuvantes de destaque de Gen V e papel do falecido Chance Perdomo. Seu sacrifício narrativo transforma o pai, Polarity (Sean Patrick Thomas), na âncora emocional do grupo de desajustados. Provavelmente todos os pontos no roteiro de Andre acabaram na trama do herói veterano, que constrói uma relação de pai e filha com Emma (Lizze Broadway), digna de lágrimas. A pequena, aliás, desenvolve o próprio arsenal e passa a crescer ao invés de apenas diminuir a estatura.

Ethan Slater vive Thomas Godolkin, o fundador da Universidade God U e figura importante na mitologia de The Boys (Foto: Prime Video)

Cate (Maddie Philips numa peruca loira e com cicatrizes que lembram a pobre-coitada de Titane), vista pela última vez na sombra de Homelander, precisa ser atingida diretamente pelas consequências de suas ações para tomar juízo e cruzar a linha para o lado dos bonzinhos. E Sam (Asa Germann), o poderoso crianção que deixou para trás o rótulo de desalmado, também prova seu valor – mas numa chave melodramática que tateia o potencial criativo e humano da equipe de roteiristas.

São oito episódios que oscilam entre a pressa e a resolução moral de vários destinos e questões, a principal sendo a chegada de Annabeth (Keeya King, de Yellowjackets), a irmã mais nova que Marie acreditou ter traumatizado no eclipse de seus dons. Na verdade, a presença de Composto-V nas veias da jovem é mais um dos acertos da temporada, que utiliza seus expressivos olhos à favor das enormes consequências dos atos dos heróis.

A temporada apresenta heróis com poderes diferentes, mas úteis na batalha final, como a garota-camaleão e a diva que usa os pelos pubianos como arma (Foto: Prime Video)

Sóbria nas relações diretas com The Boys, Gen V organiza aparições pontuais de Luz-Estrela, Trem-Bala, Profundo, Mana Sábia e dos foragidos Stan Edgar e da pequena Zoe, filha da falecida Victoria Neuman. Com a vindoura temporada final da série original, o terreno é preparado com potenciais alianças e muitas fatalidades; o custo para tal planejamento é a perda da identidade tão voraz e ácida que os jovens universitários aproveitaram tão bem quando a ameaça do Capitão Pátria parecia tão distante.

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