Ame ou odeie, o found footage é de longe um dos subgêneros mais populares do horror e, a cada ano, novas pérolas vão surgindo para integrar o panteão das mais perturbadoras fitas encontradas pelos cantos do mundo. Em 2005, o cineasta Kōji Shiraishi apresentou ao público japonês sua versão do fenômeno found footage: Noroi – A Lenda de Kagutaba, a assombrosa história do jornalista Masafumi Kobayashi.
Interpretado pelo carismático Jin Muraki, Kobayashi se dedica a desvendar mistérios paranormais. No entanto, sua última investigação resultou em uma tragédia: sua casa em chamas, sua esposa morta e Kobayashi desaparecido. A história é contada em um documentário que busca questionar o paradeiro do jornalista, transmitindo na íntegra ao espectador o documentário que o próprio protagonista havia realizado dias antes de desaparecer. Ou seja, é um filme dentro de um filme, onde a metalinguagem é assumida com vivacidade para fortalecer o clima mórbido da narrativa, no melhor estilo Investigação Discovery.
Assim, durante grande parte dos 115 minutos de Noroi, assistimos, na verdade, ao documentário do jornalista, que antes de desaparecer encontrou uma ligação tenebrosa entre uma série de eventos paranormais, desaparecimentos e mortes em Tóquio e seus arredores. A montagem é responsável por grande parte da mágica por aqui – os cortes bruscos, a mescla com programas de TV japoneses e a ordem com que nos são apresentados os principais fatos deixa tudo mais desconfortável.
Enquanto as imagens capturadas por Kobayashi e seu cameraman já são suficientes para fazer com que até o mais cético dos espectadores duvide de si mesmo, o momento em que somos finalmente apresentados a Kagutaba (que foi inserido no título da obra no Brasil), estamos completamente derrotados. O demônio japonês, aprisionado debaixo de um pequeno vilarejo, domina a segunda metade de Noroi e é o responsável por unir as diversas pontas soltas levantadas pela investigação do protagonista. Dando ao filme um ar mais folk horror, Kagutaba assume diversas faces, todas elas marcadas pelos grandes olhos negros desiguais que demoram para sair da cabeça do público de primeira viagem – e de segunda, e de terceira…
E entre o elenco talentoso que dá vida a uma variedade de personagens excêntricos e a interpretação gentil de Muraki com seu jornalista, a presença do demônio encaminha a narrativa para um clímax macabro, triste e maléfico até os ossos.
Não há salvação, não há esperança. Há apenas a verdade, terrível verdade. Aquela pela qual Kobayashi se sacrificou. E aquela pela qual nós ansiamos.
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