Você provavelmente conhece Demián Rugna de um dos filmes de terror mais comentados de 2023, o magnífico O Mal Que Nos Habita. No entanto, seis anos antes, o diretor lançou uma obra igualmente interessante que ajudou a pavimentar um caminho narrativo sólido no horror argentino da última década. Aterrorizados é tudo isso e muito mais.
À primeira vista, uma pacata rua de um pacato bairro de Buenos Aires com uma pacata vizinhança vivem sua vida normalmente. Olhando pelo lado de fora, vemos apenas casas em silêncio, poucos carros passando e aquela paz que o gênero ama destruir. Mas não se engane, porque o pôster do longa de 2017 não esconde sua premissa: eles estão na sua casa… e estão te observando.
De forma não-linear, Aterrados, no original, bate na porta de cada um desses lares e espalha o inferno. São vozes saindo do ralo da pia, supostas obras intermináveis e fendas na parede infestadas de pragas interdimensionais, diz um dos três especialistas trabalhando no caso. O ritmo pode até se tornar frenético, mas a forma comedida com que Rugna trabalha com seus monstros impressiona. O diretor e roteirista não abre mão de um ou outro jump scare, mas é o silêncio e a antecipação que tomam conta do filme.
Os pequenos contos que juntos formam a história principal são tratados com uma crueza quase científica, e se em algumas obras de terror esse distanciamento pode quebrar o passo da narrativa, aqui, ele consegue deixá-la ainda mais sombria e incômoda. Possivelmente a cereja do bolo, os visuais das criaturas de Aterrorizados, fruto do trabalho de Marcos Berta, são de tirar o fôlego. O destaque vai, claro, para o pequeno menino zumbi esperando seu café da manhã em plena luz do dia – com uma abordagem criminal digna de True Detective –, mas o clímax noturno, que seria um americanizado momento de descobertas, só traz desespero e fugas em massa.
A ideia do horror biológico, da praga desconhecida mas estabelecida, que seria mais tarde muito bem trabalhada e explorada em O Mal Que Nos Habita, é projetada tão eficientemente que sabemos estarmos assistindo um filme que vai muito além de assombrações e casa amaldiçoadas. No fim, não vemos a hora de Demián Rugna botar as mãos numa câmera novamente.
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