Quinta é dia de feira #15

Um pouco sobre Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho

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Jogo de Cena foi o primeiro filme de Eduardo Coutinho que eu assisti. O documentário é de 2007 e é o 10º longa-metragem do cineasta, um dos mais consagrados e respeitados do país. Quer dizer, eu não sabia de nada disso quando dei play. Já tinha ouvido falar de Cabra Marcado Para Morrer, mas também não tinha visto – e muito menos conhecia o impacto do trabalho de Coutinho.

Mas deixa que eu apresento o filme primeiro. “Se você é mulher com mais de 18 anos, moradora do Rio de Janeiro, tem histórias pra contar e quer participar de um teste para um filme documentário, procure-nos”, dizia o anúncio no jornal. A partir dele, 83 mulheres contaram suas histórias de vida para o diretor, mas apenas 23 delas foram selecionadas. Com a câmera ligada, no Teatro Glauce Rocha, centro do Rio de Janeiro, elas compartilharam suas trajetórias, alegrias, anseios e tristezas para que, em setembro do mesmo ano, um grupo de atrizes fosse convidado para interpretar toda essa bagagem a seu modo. 

O cenário é o mesmo para todas: uma cadeira no palco do teatro, de costas para a plateia e de frente para Coutinho, que vez ou outra faz uma pergunta. Assim, Jogo de Cena intercala essas narrativas e deixa para o espectador imaginar o que é real de fato e o que faz parte de toda aquela performance. Não que isso importe, claro. O resultado é tão visceral que somos acometidos pelos relatos com a mesma intensidade, sem nos darmos contas, de antemão, da magnitude daquela experiência.

Se de um lado temos grandes atrizes como Marília Pêra, Fernanda Torres e Andréa Beltrão, e do outro temos um grupo potente de mulheres comuns, Eduardo Coutinho está no centro desse jogo, orquestrando o espetáculo sem interferir na sua execução. Para mim, uma espectadora de primeira viagem, fiquei hipnotizada pela forma com que o diretor se relaciona com seus personagens e extrai, com muito respeito e carinho por suas histórias, grandes obras.

Este ano, em fevereiro, completou-se uma década da triste e violenta morte do diretor, que estava para comemorar seus 80 anos. Eduardo Coutinho era único. Perdê-lo foi como perder uma artéria vital, pulsante, não só para o Cinema brasileiro, mas também para a arte de contar histórias. Ele sabia que a beleza da vida estava nas pessoas comuns que carregam nas costas essa bela tragédia chamada Brasil. Que falta que isso faz.

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