Quinta é dia de feira #14

Um pouco sobre Òrun Àiyé – A Criação do Mundo, de Jamile Coelho e Cintia Maria

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Antes mesmo da criação dos seres humanos, já existia o orgulho, a vaidade e o ciúmes. Mas essa última palavrinha Luna não conhecia. Sentada na frente do seu avô, entristecida, ela ganha de presente uma bela história: a origem do mundo e da humanidade de acordo com a mitologia iorubá. E nós ganhamos um belo filme.

Dirigido por Jamile Coelho e Cintia Maria, Òrun Àiyé – A Criação do Mundo é um curta-metragem de muita delicadeza. A animação 2D ilustra o universo de Luna e vô Bira, enquanto os bonecos do stop-motion se encarregam de contar a saga de Oxalá, dublado por Carlinhos Brown. É nesse segundo momento que percebemos a riqueza dos detalhes e das escolhas criativas da obra. Os pequenos búzios na vestimenta de Exu, os cenários complexos e abrangentes, a direção musical do épico e o jogo de luzes do peso das escolhas são todos elementos que fazem com que o filme pulse com vida própria. 

Através de vô Bira, Òrun Àiyé – A Criação do Mundo realiza uma homenagem ao professor e historiador Ubiratan Castro de Araújo, falecido em 2013 e que, de acordo com Cintia, era um “exímio contador de histórias”, além de uma figura de extrema importância para o movimento negro baiano. Contando a história da criação do mundo para a neta, seu personagem faz a roda da oralidade girar, acenando para as tradições do Candomblé que registra, resgata e honra os que vieram antes de nós.

E quando Luna envelhece e se vê na mesma posição do avô décadas atrás, ela sente a ancestralidade da memória e a força dos ensinamentos dos Orixás com aquela pequena lágrima que escorre no seu rosto. Porque, entre o novo e o velho, a tradição se mantém viva. Porque dialogar com a juventude é um ato revolucionário. E porque a criança é a esperança de Oxalá.

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