É no dia 20 de julho de 1934, com Padre Cícero em seu leito de morte rodeado de caras inchadas de choro e corações castigados pela dor de perdê-lo, que a aventura punk-árida de Paulo Caldas e Lírio Ferreira começa. Baile Perfumado é um daqueles filmes que quanto mais você assiste, mais tem vontade de rever – o longa joga a década de 1930 diretamente no centro daquela efervescência cultural dos anos 90, fazendo com que o capitão Virgulino se embrenhe pelo sertão nordestino ao som de Chico Science.
A partir daí, acompanhamos a viagem do fotógrafo libanês Benjamin Abrahão, que está decidido a filmar Lampião e seu bando para fazer um filme que, preferencialmente, lhe renderá uma boa grana. A história é real, mas o que importa aqui não é a veracidade da sua construção ou os detalhes dos acontecimentos. Aqui, nos interessa os planos-sequência, as cores vibrantes, a trilha musical, o manguebeat, as perseguições e essa estilização que ficou tão associada ao imaginário do filme mais de duas décadas depois.
Ainda assim, Caldas e Ferreira – que elaboraram o roteiro junto com Hilton Lacerda – mesclam suas cenas fictícias com as imagens verdadeiras feitas por Abrahão, único que ficou lado a lado com os cangaceiros e teve autorização para registrar sua rotina. Enquanto Duda Mamberti dá vida ao carismático e esperto fotógrafo, é o potente Luiz Carlos Vasconcelos que interpreta Lampião, trazendo a vaidade e a violência do rei do cangaço e governador do sertão (Virgulino Ferreiro da Silva, sim senhor).
Baile Perfumado foi considerado um marco na produção cinematográfica brasileira, estagnada depois do fim da Embrafilme, e foi o responsável por retomar a atividade em Pernambuco 18 anos depois do último longa feito no estado. Não à toa, o filme é tudo isso e muito mais: vivo, criativo, resistente, sagaz e inquieto.
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