The Traitors se consolidou como um dos mais premiados e inteligentes experimentos sociais da Televisão. Em um castelo escocês, um grupo de personalidades é confinado e observa a lógica se desfazer quando uma minoria secreta de Traidores é incumbida de enganar e eliminar uma maioria de Fiéis. Menos um reality show e mais um laboratório de paranoia, o programa opera sob uma premissa simples.
A terceira temporada elevou essa fórmula ao patamar de arte caótica, um estudo de caso sobre como a colisão de egos enormes produz um entretenimento mais valioso que qualquer estrutura. O resultado agora colhe os frutos do reconhecimento. Vencedor do Emmy de Melhor Reality de Competição em 2024, a série chega como favorita à premiação de 2025, novamente indicada nessa categoria.
Para entender a genialidade da temporada, é preciso também compreender a arquitetura do jogo, um ciclo ritualístico desenhado para a desconfiança. Cada dia começa com a revelação de um assassinato, um Fiel eliminado durante a noite pelos Traidores. Depois do café da manhã, o brunch dá lugar às missões que servem aos propósitos de aumentar o prêmio final em dinheiro e, mais importante, forçar os jogadores a interagirem sob pressão. Dentro dessas missões, também há a possibilidade de ganhar um escudo que concede imunidade ao assassinato daquela noite.
Ao fim, o dia culmina na mesa redonda em que um jogador é banido por votação baseada em suspeitas e arguições. É nesse tribunal que a batalha de aparências acontece, e muito bem conduzida por Alan Cumming, cheio de carisma que faz valer o reality por si só, além de ter vencido o Emmy por sua condução em 2024. Com estilo teatral, charme gótico e comentários mordazes, ele é o maestro do caos.
Nessa temporada o elenco de Traidores uniu figuras icônicas, pelo bem e pelo mal. Boston Rob, a lenda de Survivor e desejado por muitos dos espectadores; Bob the Drag Queen, a exuberante vencedora de RuPaul’s Drag Race; Danielle Reyes, a estrategista emocional de Big Brother; e Carolyn Wiger, a excêntrica finalista de Survivor. O resultado foi uma disfunção gloriosa. Não era uma questão de um ou dois membros desestabilizarem o grupo, os quatro formaram uma entidade disfuncional, na qual cada um contribuiu igualmente para a implosão.
Boston Rob tentava aplicar sua cartilha de controle estratégico e agressivo. Conquistava o público? Sim! Mas sua fama o precedia e o transformava em um alvo grande demais num jogo de sutilezas. Bob trouxe uma teatralidade magistral que, embora carismática, também era péssima para a silenciosa onda de assassinatos. Danielle seguia em marés de paranoia e alianças emocionais, típico do Big Brother, e isso a levava a tomar decisões baseadas em lealdades frágeis e dramalhões. E Carolyn, longe de ser uma vítima passiva, jogava seu próprio jogo complexo que provavelmente nem ela entendia.
Um estopim que fez valer todo resto da temporada foi o ringue na arguição entre Bob the Drag Queen e Dylan Efron — irmão do Zac. Acusando-o de ser um Traidor, sobrou até para a estrela de High School Musical: “Bob é um ator incrível, eu cresci com um ator”, “Não um bom!”. Mas, infelizmente, esse elenco parecia ter aversão a audácia e a personalidades fortes, provocando a saída precoce de Bob. Ainda assim, o reality se sustenta por todas as suas outras inconstâncias, personalidades como Sam (ex da Britney Spears) e muitas ex-Real Housewives, criando situações que sem dúvida justificam sua indicação, prêmios e fãs. Ainda há muito o que se ver nesse castelo.
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