A fazenda da família Cavalcanti, no interior de Pernambuco, foi administrada por muitos homens-de-bem até chegar em “doutor Roberto”, atual patrão. Ele, a esposa e a filha vivem uma vida de luxo em Recife, bem longe da terra, com direito à cobertura e carro blindado comprados para que a esposa Teresa se sinta mais segura após uma experiência de assalto à mão armada que a traumatizou. Juntos, marido eufórico e mulher letárgica viajam até a fazenda para comemorar uma grande conquista: a venda deu certo e tudo aquilo vai virar um lindo hotel.
O dia começa da forma habitual para Dona Antônia, a Tonha. Acordou na sua cama sozinha, sem o marido, passou seu café e foi trabalhar. De repente, todos são chamados por seu Renildo para receber uma notícia importante: a fazenda será vendida e todo mundo precisa acertar suas contas e ir embora. Se não pagarem o que devem, não receberão seus documentos de volta – ordens do patrão. As pessoas que trabalharam a vida inteira naquelas terras são relembradas com ênfase que não possuem direito algum ali além o de serem gratas.
Propriedade, de Daniel Bandeira, escala muito rápido. Quando a violência começa e os dois núcleos se encontram, parece que o filme mal havia começado. No entanto, já temos dois cadáveres, um patrão espancado e uma Teresa trancada dentro do carro blindado. É assim, inclusive, que a personagem da brilhante Malu Galli atravessa o longa, separada da revolta daqueles trabalhadores por um vidro que aguenta até tiro de 12.
Bandeira sabe como provocar seu espectador, cutucando a fina camada de moralidade que se divide entre o espaço interno do veículo e a amplitude da casa-grande. Os que estão do lado de fora, liderados pela Tonha de Zuleika Ferreira, vêem a situação fugir do controle, e é com esse desespero, potencializado em nome do Cinema de horror, que Propriedade escancara um Brasil de mentalidade colonial, onde uma desigualdade extrema leva a uma resposta extrema. O filme é explícito em suas falas e mostra a crueza do ser humano sem nunca abaixar a cabeça para a simpatia que ele próprio inicialmente constrói.
Propriedade conta com um elenco de peso, cenas brutais e um final de deixar qualquer fã do gênero babando. É claustrofóbico, autoconsciente e indicado para um lindo domingo de manhã com a família. Brincadeira.
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