A doce, amarga e saudosa 12ª edição de MasterChef Amadores

Refém do próprio passado, a fórmula do maior reality culinário do mundo também precisa se reinventar

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Ao apagar das luzes da 12ª temporada, com o troféu já em mãos e os confetes varridos do chão, sentimos o gosto de um saudosismo agridoce. Apesar de ter feito barulho em trend topics que não víamos há tempos, a estrutura do MasterChef Brasil, no entanto, pareceu encolher. Essa edição foi competente em seus microdramas, no pós eliminação todos sempre rendiam muito no X, sem mencionar que o carisma de participantes rendeu mais menções de campeã  — ou perdeã — que a própria ganhadora do troféu. Nessa jornada, não sabemos exatamente o que faltou até colocarmos na ponta do lápis tudo de majestoso que já trouxeram, por dentro e por fora.

Uma grande falta nesse ano foram as grandiosas provas externas colocavam os participantes em um cenário com muito mais a perder e muito mais pessoas à decepcionar. Nesse sentido, o próprio perfil dos competidores, talvez os mais genuinamente amadores dos últimos anos, serve como justificativa tácita. Ainda que nosso único parâmetro seja a memória afetiva, sentimos a ausência do palco expandido mais como renúncia que adequação. Sempre é bem-vinda a quebra de familiaridade do estúdio, novas dinâmicas narrativas que as bancadas individuais já não dão conta. Se talvez diminuíssem os depoimentos, sentiríamos mais falta ainda.

Com o prêmio de ganhadora da décima segunda edição do MasterChef Amadores, Daniela quer abrir um bistrô que chamará Dona Dandi (Foto: Band)

E paira uma pergunta no ar, o título de MasterChef ainda carrega o mesmo peso quando a jornada se assemelha mais a um reality de convivência com panelas do que a uma maratona culinária que simula, de fato, os múltiplos infernos e glórias da profission? E aí que começamos a entender o tamanho do buraco. 

As caixas misteriosas já não provocam a mesma ansiedade que provocavam antes. Finger foods e outras muitas provas que estão sempre confirmadas em todas as temporadas nos dão preguiça de ligar a TV. As provas de reprodução agora são de re-reproduções, já que sempre são as mesmas das outras temporadas. Estamos vendo um reboot com cada vez menos orçamento feito semestralmente e só nos resta avaliar as performances dos atores — entre aspas, claro.

Pela primeira vez na história, o MasterChef não conseguiu nem ficar entre os dez programas mais vistos da própria Bandeirantes. A audiência marcou cerca de 2.0 pontos de média nessa final, ainda que em segundo lugar, se compararmos com 2015, tínhamos 7,2 pontos. Considerando que cada ponto de audiência na Grande São Paulo em 2024 representa aproximadamente 650 mil pessoas, o programa caiu de cerca de 4.8 milhões em 2015 para aproximadamente 1.3 milhão. E o YouTube não preenche essa diferença.

No MasterChef Profissionais, os participantes já tiveram que preparar um menu completo para 120 convidados do musical Les Miserables no Teatro Renault (Foto: Band)

A emissora virou refém do próprio sucesso. Com versões do MasterChef o ano todo — Amadores, Profissionais, Kids, +60, A Revanche —, o próprio formato virou fast food televisivo. O que era evento esperado por meses virou presença constante na grade. Quando tudo é especial, nada é especial. Para quem assiste ao ao vivo e não pode pular, também somos agraciados com uma ida ao banheiro ou à cozinha enquanto ditam a longa lista de prêmios e patrocinadores. Com doze oficiais brigando por espaço, o iFood chegou ao cúmulo de entregar o resultado da final via drone.

Pela primeira vez em anos, o casting trouxe amadores de verdade. Ainda que julgássemos e pesássemos um pouco nas palavras, é gostoso assistir pessoas crescendo de verdade na cozinha, mesmo que os pratos não fossem lá essas coisas. Nos dá sentimentos melhores que falsos amadores das temporadas passadas, que sabiam tudo e fingiam aprender. Agora a evolução era verdade, mesmo que custasse uns pratos incomíveis pelo caminho.

Com o encerramento corrido, durante três programas até a semifinal, eram eliminados dois participantes por episódio (Foto: Band)

A temporada de 2025 funcionou como um laboratório cruel dos limites do formato. Mostrou que dá para manter o programa no ar mesmo com todas essas limitações e ao mesmo tempo questionou se vale a pena. O MasterChef de hoje é aquele restaurante que você frequentava na adolescência, ele ainda existe, ainda funciona, mas agora você vai mais por costume que por prazer. E precisam redescobrir o que o fez especial um dia.

Mas vamos continuar assistindo, porque depois de onze anos criamos uma relação até um pouco tóxica. Reclamamos, criticamos, na terça-feira que vem estaremos lá de novo, torcendo para que dessa vez seja diferente. No fundo, a gente ainda acredita que o programa pode voltar a ser aquela paixão nacional que um dia já foi. E, por favor, nos dêem algum apresentador de novo.

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