Já são 25 anos desde que o jovem Alex entrou em um avião com a turma da escola e viu o momento exato em que ele explodiria no ar e mataria a todos. Desde então, acumulamos traumas: foram montanhas-russas, toras de madeira, máquinas de bronzeamento, ralos de piscina, pistas de corrida, linhas de trem, cirurgias oculares, elevadores, airbags, pontes estaiadas e sessões de acupuntura. Precisava de mais? Claro que sim. E é para isso que Premonição 6: Laços de Sangue veio.
Quem assume a tarefa de retomar a franquia são os diretores Zach Lipovsky e Adam Stein. Dessa vez, no entanto, a ordem dos acontecimentos muda. Primeiro conhecemos Iris (Brec Bassinger), que, na flor da idade, em pleno anos 50, é levada pelo namorado para a inauguração do restaurante Skyview, uma torre de 120 metros com tudo de mais luxuoso que o dinheiro pode comprar.

Lá, ela descobriu estar grávida e foi pedida em casamento. O encontro perfeito se não fosse pelos detalhes – o elevador apertado, a moeda roubada, a chama da frigideira. É assim que a franquia te conquista, através da paranoia de uma personagem que sabe que algo não vai tão bem. São close-ups em objetos, falas e ações supostamente aleatórias que transmitem o pânico sufocante da ansiedade e nos colocam como que debaixo d’água, som abafado, mãos suadas e pupilas dilatadas. Por isso, não é surpresa nenhuma quando a torre inteira desmorona.
O pesadelo de Iris se torna o de Stefani, assombrada nos dias atuais pela visão da avó que nunca conheceu. Tão frequente que se torna um problema acadêmico, o sonho faz com que a estudante volte para a cidade-natal investigar quem diabos é Iris e por que ela tanto aparece em seu subconsciente.
A família é grande: Stefani (Kaitlyn Santa Juana) é irmã de Charlie (Teo Briones), filha de Darlene (Rya Kihlstedt), sobrinha de Howard (Alex Zahara) e prima de Erik (Richard Harmon), Julia (Lore) e Bobby (Owen Joyner). Todos eles unidos por sangue a Iris (Gabrielle Rose), mãe, avó e a grande responsável pela bagunça que a Morte teve que arrumar durante os seis filmes da franquia.

Ao longo dos anos, a personagem se isolou em uma cabana e aprendeu a prever as tentativas da entidade em matá-la antes mesmo que acontecessem, o que fez com que a lista de familiares a serem ceifados futuramente apenas aumentasse. Quando Stefani bate à sua porta e desacredita de cada palavra, só a resta dar o pontapé inicial e fazer com que as engrenagens voltem a girar.
Diferente das outras cinco obras que o antecedem, Premonição 6: Laços de Sangue não nos apresenta um grupo de desconhecidos que sobrevivem a um grande desastre e passam a ser perseguidos. A família Campbell-Reyes é, na verdade, apenas uma consequência de décadas atrás e, sem enrolações, não demora para se unir a fim de parar o massacre.
Grande responsável por essa união, Stefani também é a primeira a dividir o protagonismo, já que só havíamos conhecido um único visionário por filme. Ao lado de Iris, o placar vira para o lado das personagens femininas, e o resultado refresca uma franquia que havia parado em 2011 e já repetia algumas fórmulas entre si.

Kaitlyn Santa Juana não se acanha no papel, mas também não se destaca em meio a um elenco carismático e personagens que facilmente encantam o público. A dinâmica entre Richard Harmon e Owen Joyner, por exemplo, traz honestidade a um filme que se pauta em tão deliciosa fantasia. Os irmãos (meio-irmãos, se ainda cabe a piada) acabam caindo em um morre-não-morre hilário, mas que não deixa de transmitir o pesar de uma situação cruel que transborda luto e injustiça.
Nada, no entanto, reflete o verdadeiro espírito de Premonição 6 como o desfecho da história de William Bludworth, interpretado ao longo dos anos pelo genial Tony Todd. Fosse como mensageiro, assistente, ou a própria Morte, o personagem de Todd sempre dava as caras, aterrorizando os perseguidos que buscavam entender o próprio destino.
Agora, não só descobrimos quem realmente é William Bludworth, mas nos despedimos de seu dedicado criador com carinho e respeito. Ícone do mundo do Terror, Todd faleceu em novembro de 2024, e aproveitou as gravações de Premonição 6, seu último filme, para dar um adeus generoso aos seus fãs apaixonados.

Para isso, o roteiro de Guy Busick e Lori Evans Taylor encontrou uma saída criativa e condizente com a trajetória daquele legista escondido atrás de cadáveres e macas de alumínio e cheio de enigmas macabros – ele enfim se torna alguém. Quem diria que seria possível se emocionar com um filme onde uma pessoa morre com um cortador de grama na cara.
Premonição 6: Laços de Sangue pode até ter demorado para sair do papel, mas agora que o fez, deu uma cara nova para uma história que traumatizou gerações com mortes que variam entre super-possível-vou-ficar-atento e não-aconteceria-nem-a-pau. O filme se encaixa tranquilamente na franquia, e, além de se conectar com muita confiança aos irmãos mais velhos, também fica em pé por conta própria.
Respiremos aliviados, então. Ou não. Cuidado.
Achou que acabou? Para complementar o post do Tesoura sobre a franquia, nada melhor do que um ranking fresquinho com as melhores mortes de Premonição 6: Laços de Sangue. Alerta de spoilers!
7. Darlene Campbell

Mesmo figurando no último lugar desta lista profana, a morte de Darlene Campbell não é de se jogar fora. Claro que ela não se compara ao massacre que a gente assiste ao longo do filme, principalmente se levar em consideração que a morte da personagem vem depois de quase todas as cenas que saíram na frente no ranking. De qualquer forma, Darlene é simpática e o momento lembra da serena passagem de Ian em Premonição 3. Depois de levar uma explosão bem na cara, a mãe da protagonista se levanta das cinzas para salvar o filho. Papel cumprido, ela acaba sendo esmagada por um poste de luz em queda.
6. Stefani e Charlie Reyes

Leve 2 e pague 1: se você não estava esperando um final desastroso para os sobreviventes de Premonição, você não estava prestando atenção. Depois de assistir a morte de todos os familiares das formas mais grotescas possíveis, Stefani e Charlie acreditam que tudo vai bem, muito obrigado. Um lindo epílogo se inicia onde Charlie vai buscar sua parceira para o baile da escola. Stefani e o pai acumulam lágrimas nos olhos. E vem a revelação – mas não sozinha, claro. A verdade de que Stefani não morreu e, consequentemente, não foi ressuscitada chega acompanhada de um descarrilamento de trem transportando toras de madeiras que esmagam nostalgicamente os protagonistas.
5. Julia Campbell

Julia foi uma das mais resistentes em acreditar que o destino da família estava em jogo. Pena que não teve tempo o suficiente para se redimir, mas sua morte com certeza terminou de convencer os últimos céticos. Enquanto esperávamos ansiosamente pelo possível atropelamento, desmembramento, decapitação, mutilação ou similares prestes a acontecer com Erik, nem percebemos que, ao fundo, a garota era acertada com uma bola, caía numa lixeira e era engolida por um caminhão de lixo. A ajuda quase chegou a tempo, mas Julia teve a cabeça esmagada pelo compactador. Acontece.
4. Iris Campbell

Na mesma leva de final girls armamentistas que foram trazidas de volta em grandes franquias do terror, como Laurie em Halloween e Sally em O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface, Iris Campbell aparece em Premonição 6 depois de ser dada como maluca. E ela, sem dúvidas, é uma. A personagem aprendeu a fugir da Morte por décadas, mantendo a família toda a salvo enquanto se isolava numa cabaninha blindada. Quando Stefani bate à sua porta, ela percebe que o momento chegou e dá o passo que temeu dar a vida toda. Pé para fora, as engrenagens imediatamente começam a girar e ela é empalada com uma veleta. Pelo menos convenceu a neta a movimentar o plot.
3. Howard Campbell

A gente até já sabia, porque a divulgação inicial do filme foi toda em cima desse momento. Mas assistir Howard Campbell, pai amoroso, marido gentil e tio prestativo, ter o rosto engolido por um cortador de grama minutos depois de um discurso lindo sobre a importância da família e de viver o presente foi… muito legal. O spoiler apenas potencializou a ansiedade para a cena que começa com um simples caco de vidro.
2. Bobby Campbell

Bobby é um coitado. Simples assim. Ele descobre que é o próximo na fila da Morte e começa a correr contra o tempo ao lado da família para descobrir formas de evitar seu destino final – mal sabem eles que estavam correndo em círculos. Bobby encara o plano e come amendoim, sua alergia fatal, esperando que sua futura ressurreição quebrasse o ciclo e salvasse a todos. Não só ele começa a inchar a sufocar como também assiste o irmão ser destroçado e precisa tirar a injeção de adrenalina das mãos do cadáver. Bem, se Erik morreu no seu lugar, pelo menos ele sobrevive, né? Não. Ele é perfurado no crânio com uma mola de metal. Próximo.
1. Erik Campbell

Ela nos enganou novamente. Se foi um alívio descobrir que o queridinho do público sobreviveria ao massacre da família, não é preciso dizer que ficamos todos embasbacados com o destino do rebelde Erik Campbell. No meio do plano mirabolante de matar o irmão mais novo para poder ressuscitá-lo, Erik se viu preso na armadilha da Morte e acabou esmagado gradualmente por uma cadeira de rodas dentro de uma máquina de ressonância magnética – de longe o momento mais criativo do sexto filme da franquia. E um lembrete para não esquecer de tirar os piercings quando realizar o exame.
Extra: Desastre no Skyview

Os grandes desastres da franquia Premonição costumam ser deixados de lado em rankings de fãs, já que envolvem mortes em massa e são fenômenos à parte dentro das engrenagens do plot principal. No entanto, na maioria dos casos, essas cenas são algumas das grandes responsáveis pelos traumas da geração dos anos 2000 que não consegue dirigir atrás de um caminhão que transporte toras de madeira. Por isso, não há erro em dizer que o colapso do Skyview é digno da franquia e um prato cheio para aqueles que têm medo de altura. Ou de pianos. Ou de moedas.
Deixe um comentário