Toda sexta é 13: O Massacre

Furadeiras, pijamas e vizinhos curiosos

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Você provavelmente conhece a fórmula usada à exaustão pelos slashers. Ela envolve adolescentes curiosos e festeiros, assassinos com alguma arma bizarra, sexo e muitos, muitos peitos a mostra. O Massacre, muito conhecido pelo seu nome original The Slumber Party Massacre, faz tudo isso – mas com um quê a mais. Escrito originalmente por Rita Mae Brown como uma paródia do subgênero, o filme de 1982 precisou passar por algumas mudanças exigidas pelos produtores, mas com a direção debochada de Amy Holden Jones, é fácil acreditar que a ideia de Brown foi respeitada ao máximo.

Sem se atentar com a notícia de que Russ Thorn (Michael Villella), um assassino em massa maluco, acabou de fugir do hospício, Trish (Michele Michaels) convida algumas amigas para passar a noite em sua casa-oficialmente-sem-adultos, pois seus pais haviam viajado e deixado a supervisão da garota ao vizinho do quintal ao lado. Thorn, com uma furadeira-levemente-fálica, começa sua matança ainda na escola, trilhando os passos que o levariam até a festa do pijama de Trish.

O Massacre zomba a todo o momento da forma com que os diretores homens dos slashers tratam suas personagens femininas. A câmera de Jones acompanha de perto cada troca de roupa e ida ao chuveiro das adolescentes, não perdendo tempo em enquadrar peitos e bundas de uma forma semelhante a que Coralie Fargeat faz 42 anos depois com Sue, em A Substância. A crítica a esse olhar objetificante reside no exagero, no absurdo, e é acompanhada, posteriormente, de um relacionamento muito firme e natural entre o grupo de meninas, algo tão estranho ao cinema de gênero oitentista.

O núcleo de Valerie (Robin Stille), a novata do colégio que assiste tudo da casa ao lado, enriquece o comentário de Rita Mae Brown e Amy Holden Jones sobre a liberdade sexual das jovens. Enquanto Diane (Gina Smika Hunter) é assassinada cheia de tesão no carro com o namorado, Valerie e a irmã discutem livremente, sem repreensões ou julgamentos, o prazer, a curiosidade e o constante uso do travesseiro com revistas masculinas nas mãos. Alheias ao massacre, a dupla acaba entrando livremente na casa cheia de corpos, mas se tornam essenciais para derrotar Thorn – porque se dependesse dos homens, o assassino teria feito a festa e ido embora tranquilamente.

Não é preciso dizer que o filme se tornou um clássico feminista. Com seu comentário sutil sobre a cultura do estupro nas únicas palavras proferidas pelo vilão, O Massacre é revigorante, irônico, ridículo e delicioso. Ele esconde sua criticidade por trás de pijamas coladinhos, fazendo com que os olhos desatentos do terror ignorem sua engenhosidade. A eles, cortemos suas furadeiras!

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