Embora tenha lançado o single promocional de Maya: Bebê Arco-Íris durante a divulgação do livro infantil que escreveu na pandemia, a eterna Rainha dos Baixinhos permaneceu afastada do cenário musical desde o último lançamento do Xuxa Só Para Baixinhos (XSPB), em 2016.
A participação de Xuxa em festivais de Música, como o Universo Spanta e o Rock in Rio, desde o início do ano, parece ter motivado seu retorno à indústria fonográfica. Outro indício dessa retomada foi a participação da artista no especial do Fantástico em prol do Rio Grande do Sul, afetado pelas enchentes. Na ocasião, ela cantou parte da música Direito de Viver, da dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó.
Os fãs saudosistas aguardavam ansiosamente o retorno da cantora, que, entre muitas promessas, anunciou um álbum de presente para o público que a consagrou como recordista de vendas de discos nos anos 1980. Durante essa época, Xuxa se tornou um fenômeno nacional, com uma legião de admiradores e vendas astronômicas, especialmente entre o público infantil, consolidando sua posição como uma das artistas mais bem-sucedidas do país.
Às vésperas de anunciar as datas de sua próxima turnê, com apresentações no Brasil e na Argentina, Xuxa surpreendeu a todos com o lançamento do álbum Raridades X, um projeto em colaboração com a Som Livre. Esse trabalho também marca o retorno da apresentadora à sua histórica parceria de décadas com a gravadora. Segundo Xuxa, a ideia é, daqui para frente, disponibilizar sobras de álbuns e músicas que foram interpretadas apenas em programas especiais.
Com dez faixas inéditas, que combinam ritmos brasileiros com batidas pop e eletrônicas, Raridades X apresenta uma coleção de músicas descartadas de álbuns anteriores. O projeto inclui gravações feitas para programas especiais, nunca antes disponibilizadas em nenhuma outra plataforma, além de sobras de estúdio dos últimos lançamentos da cantora.
Esta não é a primeira vez que Xuxa se envolve em um projeto desse tipo. Após o fim do programa Xou da Xuxa, em dezembro de 1992, sua equipe correu contra o tempo para lançar um novo álbum no ano seguinte, uma vez que o futuro da apresentadora na Televisão ainda era incerto. Na época, foram aproveitadas músicas descartadas e um ensaio fotográfico realizado para a divulgação de um programa nos Estados Unidos, resultando no lançamento do álbum Xuxa, em 1993. O disco trouxe faixas de qualidade, mantendo a essência da superestrela da nave cor-de-rosa.
Diferentemente do álbum de 1993, em Raridades X, a seleção das músicas parece desorganizada, dando a impressão de que foi feita sem a devida atenção. Essa situação pode ser explicada pela dificuldade em obter a liberação de outras canções por parte dos compositores. Além disso, Xuxa poderia ter regravado essas faixas para refletir sua potência vocal atual.
A primeira faixa do novo álbum é Ilha Deserta, escolhida como a música de trabalho do disco. Com batidas envolventes e um refrão chiclete, a canção é animada, destacando-se pelas palmas, uma característica recorrente nas músicas da Rainha dos Baixinhos. A composição é assinada por Dudu Falcão e Michael Sullivan, responsável por muitos dos maiores sucessos da artista, como Lua de Cristal e Arco-íris. A letra evoca uma atmosfera leve e descontraída, retratando o sonho de ter parado sem querer em uma ilha paradisíaca, o que combina perfeitamente com o estilo vibrante da artista.
Inicialmente apresentada no antigo Planeta Xuxa no início dos anos 2000, Com Amor é uma balada acompanhada de violão e coro, abordando a importância do sentimento na vida. A canção transmite uma mensagem de união e esperança, convidando todos a refletirem sobre a força do afeto nas relações humanas e a valorizarem momentos simples.
Apesar de lúdica, Astronauta de Papel revela uma fragilidade que justifica seu descarte. Ainda que a canção tenha uma melodia leve e um tema divertido, a faixa apresenta uma falta de profundidade nas letras e uma repetição de temas já interpretados. Essa simplicidade pode não atender às expectativas dos fãs, que procuram músicas que se destacam verdadeiramente na discografia da artista.
Você Caiu do Céu é a faixa mais brasileira do álbum. A voz de Xuxa se entrelaça com o ritmo de instrumentos como a sanfona e o triângulo, tradicionalmente associados à cultura nordestina, especialmente às quadrilhas das festas juninas, refletindo a estética frenética do disco que deveria ter pertencido a Só Faltava Você. A música é uma versão da canção originalmente gravada por Nando Cordel em 1988.
Chefinho Mandou é uma cantiga de roda que remete aos primeiros XSPBs, ajudando no desenvolvimento da coordenação motora das crianças por meio de comandos de repetição. Com uma melodia infantil, a canção incentiva a participação ativa dos pequenos, promovendo momentos de diversão em grupo. Os elementos lúdicos presentes na letra, como “roda-roda”, aliados à dinâmica interativa da música, estimulam a criatividade e a socialização, essenciais para o aprendizado infantil.
Litoral é outra fraqueza entre as músicas que justificam seu descarte. Embora a canção busque transmitir uma sensação relaxante e ensolarada, sua melodia é bastante simples e se arrasta, não oferecendo uma progressão musical cativante. Como resultado, Litoral se torna uma canção que não ressoa com o público, demonstrando a necessidade de um cuidado maior na seleção de repertório para o álbum.
Amigo Especial é uma balada que aborda a inclusão de pessoas com deficiência. Com uma melodia suave, a canção celebra a diversidade e a importância da amizade, incentivando a empatia e a aceitação. A letra destaca a singularidade de cada indivíduo, enfatizando que todos têm seu valor e merecem respeito.
Defensores da Natureza exalta a preservação ambiental, um tema que Xuxa sempre defendeu ao longo de sua carreira. A canção traz à tona a importância de cuidar do meio ambiente e dos recursos naturais, incentivando as crianças a se tornarem conscientes sobre sua responsabilidade em relação à natureza.
Pé no Chão sintetiza todas as bandeiras que Xuxa levantou ao longo de mais de quarenta anos, abordando os direitos infantis, como a garantia de condições básicas, incluindo alimentação, educação e a liberdade de brincar, longe da exploração do trabalho. A canção foi exibida durante o Criança Esperança de 2003 e serve como um chamado à ação para a proteção e promoção do bem-estar das crianças.
A única “raridade” presente no álbum é a versão de Doce Mel (Bom Estar Com Você), de 1988, que serviu como abertura do programa Xou da Xuxa naquele ano e encerra Raridades X. Essa faixa ressalta a sonoridade e os arranjos pesados das guitarras que consolidaram Xuxa como uma campeã de vendas de discos. No entanto, por se tratar de uma música já conhecida pelo público, não havia necessidade de ser incluída neste projeto de “inéditas”.
É importante destacar a audácia de Xuxa em lançar as músicas na íntegra, sem edições; algumas delas chegam a ter mais de quatro minutos. Isso é algo inimaginável nos dias de hoje, quando as músicas são produzidas rapidamente apenas para serem impulsionadas nas redes sociais.
Mesmo sendo um “presente” para os fãs, Raridades X não tem a mesma vivacidade dos discos anteriores de Xuxa. As músicas descartadas poderiam ter permanecido desconhecidas, exceto por uma ou outra faixa. Este primeiro volume em parceria com a Som Livre marca apenas o início de uma série de novos álbuns de músicas inéditas. Agora, resta aguardar os próximos lançamentos e torcer para que sejam incluídas faixas icônicas que os fãs conhecem apenas de trechos da letra.
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